Muita emoção, ativismo e protestos deram o tom do Festival Justiça por Marielle e Anderson realizado ontem (14/3) no Rio de Janeiro para marcar o primeiro aniversário dos assassinatos da vereadora carioca e do motorista que a acompanhava na noite do crime que chocou o país. Diversas atividades foram promovidas em pontos diferentes da cidade pelo Instituto Marielle Franco e várias organizações e coletivos, como a Fase, Justiça Global, ONG Criola e o Ibase, com apoio da Oxfam Brasil.
O dia começou com um ato no exato local onde Marielle e Anderson foram executados – no bairro do Estácio, região central do Rio. As 365 flores em vasos espalhadas pelo lugar lembravam os 365 dias de espera por respostas sobre os autores e mandantes do crime. Entre as flores, um único girassol, flor símbolo da campanha de Marielle. Entre lembranças de quem conviveu com a vereadora e as falas sobre seu legados, foram lidos trechos do livro Um Girassol Nos Teus Cabelos – Poemas para Marielle Franco, que reúne obras de diversas autoras.
“Nós queremos conhecer o mandante [do crime], nós queremos ver o seu julgamento, nós queremos ver quais vão ser as medidas tomadas em relação a isso”, afirmou Lúcia Xavier, coordenadora da ONG Criola, durante o ato. A professora e ativista trans Jaqueline Silva ressaltou o papel aglutinador de Marielle: “Ela nos trouxe uma mensagem de valorização da diversidade. Quando ela dizia que ‘eu sou porque nós somos’, é porque agora nós todos somos uma, nós todos somos Marielle.”
Ainda na parte da manhã foi realizada uma missa na Igreja da Candelária, a pedido das famílias de Marielle e Anderson. Ao final da missa, representantes de religiões de matriz africana fizeram uma celebração na porta da igreja, convidando os presentes a participarem.
No início da tarde, as atividades se concentraram na região da Cinelândia. Uma aula pública foi realizada em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde Marielle exercia seu mandato de vereadora, com participação da historiadora Vânia Santana, da professora da PUC Rio Thula Pires e da diretora executiva da Anistia Internacional Jurema Werneck. “Marielle Franco representa muito da trajetória e organização política das mulheres negras brasileiras”, comentou Vânia. “É impossível deixar de destacar que nós, mulheres negras, temos feito a diferença.”
Aos poucos, a Cinelândia foi se enchendo de pessoas para homenagear Marielle e Anderson, e exigir Justiça com a identificação dos mandantes do crime. No palco montado em frente ao Theatro Municipal, diversos coletivos, músicos e grupos de teatro e dança se apresentaram e prestaram suas homenagens.
“É importante e sofrido estar aqui hoje participando das homenagens à Marielle e Anderson”, afirmou Ananda King, da Oxfam Brasil. “Existe uma energia potente e urgente por mudanças na reação violenta às novas forças e representatividades políticas no país, como Marielle. Mas também há dor e inconformidade com o fato de vivermos neste país tão desigual e racista – fatores que estão, como outros, na origem de tanta violência e repressão. Sinto-me viva e também cansada. A caminhada, porém, é de luta e de muita sabedoria, e não irá parar nunca. A sensação é também de renascimento, de união.”