Compra do supermercado Big pelo Carrefour aumenta a urgência por políticas de direitos humanos
14/04/2021
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Sobre o autor:
Gustavo Ferroni (Coordenador de Setor Privado e Direitos Humanos da Oxfam Brasil) e Luiz Franco (Oficial de Projetos da Oxfam Brasil)
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Supermercados não são só ambientes onde compramos comida, eles são também um importante ponto de ligação entre os consumidores e as pessoas que trabalham nas cadeias de produção e distribuição de alimentos. Sendo assim, os grandes supermercados também têm o poder de incentivar ou combater sérias violações dos direitos humanos, que colocam trabalhadores rurais em situações de exploração, insalubridade e insegurança. A Oxfam Brasil trabalha para enfrentar essas situações de exploração e para trazer mais justiça e igualdade para quem dedica seus dias produzindo o que comemos. Venha entender como funciona a nossa luta e como você pode contribuir para a construção de um Brasil mais digno para quem tem menos.
Entenda o nosso trabalho junto aos supermercados
No último dia 24 de março, o Carrefour Brasil anunciou a aquisição do Grupo Big Brasil SA (Grupo BIG), consolidando assim sua posição de líder no mercado brasileiro, agora ainda mais dominante. O Carrefour, juntamente com grupo Pão de Açúcar e o próprio grupo Big, controlam cerca de 46% do setor no país atualmente.
Após a concretização do negócio, o controle da empresa fica dividido entre grupo Carrefour (67,7%) e a Península Participações (7,2%), enquanto a Advent International e o Walmart terão, juntos, 5,6% de participação.
Concentração prejudica trabalhadores rurais
A compra do grupo Big pelo Carrefour é mais um exemplo da tendência de concentração no setor de supermercados. Conforme mostramos no relatório A Hora de Mudar, lançado em 2018, esta tendência pode trazer problemas tanto para os consumidores quanto para trabalhadores rurais e pequenos agricultores ligados à produção de alimentos, porque estes ficam sem opção e sem poder de negociação. As cadeias produtivas de alimentos já são muito concentradas em diversos elos e, nas últimas décadas, os supermercados brasileiros vem acumulando mais poder e ficando com uma fatia cada vez maior do valor gerado, enquanto a fatia dos trabalhadores rurais e pequenos produtores diminuiu.
No relatório Por Trás das Suas Compras, analisamos os compromissos de responsabilidade e respeito aos direitos humanos dos três maiores supermercados do país – Carrefour, grupo Big e Pão de Açúcar – em relação às cadeias produtivas de alimentos. Na comparação entre os três, Carrefour ficou em segundo e o grupo Big em terceiro lugar. Já na comparação com os maiores supermercados dos Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, Alemanha e Holanda, o Carrefour e o grupo Big ficaram na lanterna entre 19 empresas avaliadas.
Compromisso e espaço para melhorias
Após a publicação do relatório Por Trás das Suas Compras, o Carrefour Brasil enviou uma carta se comprometendo com algumas medidas importantes, como por exemplo publicar até 2022 os seus fornecedores diretos para suas três cadeias de fornecimento mais críticas com relação a direitos humanos – frutas, hortaliças e têxtil – e publicar os indiretos até 2025, e divulgar aspectos de como é feita sua diligência devida em direitos humanos, entre outros pontos. Estes foram passos importantes, mas que ainda precisam ser implementados e, como apontou a avaliação da Oxfam Brasil, há mais espaço para melhoria.
Alguns exemplos de como o Carrefour pode melhorar em seus compromissos:
Adotar uma referência para salário digno ou salário de bem-estar (living wage) para as cadeias de fornecimento.
Estimular seus fornecedores de alimentos a aderirem aos Princípios da ONU de Empoderamento das Mulheres e divulgar quais o fizeram.
Adotar um Plano de Vigilância seguindo o modelo do Carrefour França.
Racismo institucional
O setor de supermercados apresenta um histório vergonhoso de problemas e violações de direitos humanos e de racismo. No final de 2020, João Alberto foi assassinado em uma das lojas do Carrefour em Porto Alegre (RS), gerando indignação nacional sobre o caso e jogando luz sobre o racismo institucional que permeia as empresas brasileiras, em especial as do setor de supermercados.
O Carrefour estabeleceu alguns compromissos em resposta às pressões relacionadas ao caso, como por exemplo a implementação de uma política de tolerância zero ao racismo e à discriminação por razões de raça e etnia, origem, condição social, identidade de gênero, orientação sexual, idade, deficiência e religião na empresa e em sua cadeia de valor. Outra medida foi a sinalização de que a empresa pretende internalizar 100% da equipe de segurança e contratar quadro de seguranças seguindo a representatividade da população brasileira (incluindo mulheres e negros em aproximadamente 50%).
Reforçar compromissos e práticas
O que acontecerá com esses compromissos assumidos recentemente pelo Carrefour Brasil durante o processo de reestruturação relacionado à aquisição do grupo Big? As lojas, os funcionários, cadeias de fornecimento do grupo Big serão inclusas no processo de implementação desses compromissos?
Espera-se que, além de incorporar os compromissos realizados, o Carrefour Brasil expanda tais compromissos para suas novas lojas, operações e cadeias de fornecimento. É muito importante que a aquisição do grupo Big seja um momento para o Carrefour reforçar seus compromissos e práticas com relação aos direitos humanos, adotando novos marcos de boas práticas empresariais em prol não somente de seus trabalhadores, clientes mas também dos pequenos agricultores e trabalhadores rurais em suas cadeias de fornecimento.
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A sua participação pode fazer toda a diferença em nosso trabalho para fazer com que os grandes supermercados brasileiros façam a sua parte para garantir vida digna aos trabalhadores que plantam e colhem nossa comida.
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