A diretora-executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, participou nesta quinta-feira (25/11), de audiência pública realizada pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, juntamente com representantes de outras organizações da sociedade civil, para debater o aumento da fome durante a pandemia de covid-19.
Katia Maia apresentou dados sobre a fome no Brasil e lembrou que o atual governo federal extinguiu, logo no início de sua gestão, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), uma referência internacional na construção de políticas de combate à fome e insegurança alimentar.
“Quando chega a pandemia no Brasil, encontra um país totalmente despreparado, que perdeu sua capacidade de atuar em relação à insegurança alimentar por uma decisão de governo”, afirmou Katia, durante sua fala na audiência.
A diretora executiva da Oxfam Brasil lembrou a importância de campanhas de combate à fome promovidas por diferentes organizações, como Tem Gente Com Fome da Coalizão Negra por Direitos; Panela Cheia, da Central Única das Favelas; e a da Ação da Cidadania contra a Fome.
O Brasil tem hoje 55% de sua população em insegurança alimentar (116,8 milhões de brasileiros) e 9% da população em situação de fome (19,1 milhões de brasileiros).
A instabilidade dos programas de transferência de renda também é fator que agrava insegurança alimentar da população de baixa renda, afirmou Katia, lembrando que houve interrupção do auxílio emergencial no final de 2020 – sendo retomado apenas em 2021, com valor reduzido pela metade, sendo a última parcela paga em outubro de 2021.
Tributação dos mais ricos
Entre as soluções viáveis para combater a intensa crise alimentar que o país vive está a tributação de grandes fortunas. Em momentos de graves crises, como no caso de guerras ou pandemias, a tributação de altas rendas e riquezas é medida necessária, afirmou Katia, lembrando que no ano passado os 10 maiores bilionários do mundo aumentaram suas fortunas em mais de US$ 400 bilhões – dinheiro suficiente para cobrir em 11 vezes o apelo da ONU para ajuda humanitária no mundo.
“A gente não pode normalizar a fome, a gente tem que se indignar. O dia em que nós como sociedade perdemos a capacidade de nos indignarmos com o fato de as pessoas estarem pegando osso no caminhão, perderemos toda a capacidade de construir um país justo e solidário”, afirmou Katia. “Estamos matando os seres humanos de nosso país, e a capacidade de se realizarem, de serem humanos.”