Foto: Paulo Pereira/Oxfam Brasil
A pandemia de covid-19 e o abusivo aumento de preços dos alimentos após início da crise na Ucrânia, bem como a piora da desigualdade global, podem jogar mais 263 milhões de pessoas na pobreza extrema em 2022, revela o novo relatório “Primeiro a Crise, Depois a Catástrofe”, lançado pela Oxfam nesta terça-feira (12/4). Esse número equivale às populações do Reino Unido, França, Alemanha e Espanha combinadas.
Baseado em projeções do Banco Mundial, o relatório mostra que o mundo pode chegar no final deste ano a 860 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia (pouco menos de R$ 10, em cotação do início de abril de 2022).
O documento foi divulgado às vésperas da reunião anual do Banco Mundial e do FMI em Washington DC (Estados Unidos), entre os dias 18 e 24 de abril.
“Sem uma ação radical imediata, podemos estar testemunhando o maior colapso da humanidade e sofrimento de nossa história”, afirma a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia.
Neste momento, em que muitos lutam para dar conta do grande aumento do custo de vida, tendo que escolher entre pagar por alimentação, gás ou despesas hospitalares, milhões, que já vivem em uma situação de fome e pobreza, deparam-se com a possibilidade de viver uma situação de fome crítica.
O documento aponta que diversos governos estão cortando gastos públicos para pagar credores, manter ajustes fiscais e importar alimentos e combustível. O preço dos alimentos atingiu em todo o mundo um recorde histórico em fevereiro deste ano, superando o pico da crise de 2011. As gigantes do petróleo e do gás estão registrando lucros recordes, com tendências semelhantes esperadas para o setor de alimentos e bebidas.
Preços disparam enquanto a renda das pessoas fica estagnada
As pessoas em situação de pobreza estão sendo as mais atingidas. O preço dos alimentos representa 17% dos gastos dos consumidores nos países ricos, mas chegam a 40% na África Subsaariana. Mesmo nas economias ricas, a inflação está sobrecarregando a desigualdade: nos Estados Unidos, 20% das famílias mais pobres gastam 27% de sua renda em alimentos, enquanto as 20% mais ricas gastam apenas 7%.
Para a maioria dos trabalhadores no mundo, os salários continuam estagnados ou foram reduzidos. A desigualdade de gênero também aumentou – depois de ser a parcela da população que mais perdeu emprego por conta da pandemia, as mulheres estão enfrentando dificuldades para retornar ao trabalho. Em 2021, havia 13 milhões a menos de mulheres empregadas em relação a 2019.
Taxação de super-ricos pode tirar bilhões de pessoas da pobreza
O relatório também mostra que, apesar dos muitos custos provocados pela pandemia, a riqueza dos bilionários aumentou no mesmo período. Os governos – com poucas exceções – não aumentaram os impostos sobre os mais ricos. Um imposto anual de apenas 2% sobre a fortuna dos milionários e de 5% sobre os bilionários poderia gerar US$ 2,52 trilhões ao ano — o suficiente para tirar 2,3 bilhões de pessoas da pobreza, produzir vacinas suficientes para o mundo e fornecer saúde universal e proteção social para todos que vivem em países de baixa e média renda.
“Não aceitamos argumentos que dizem que os governos não têm dinheiro ou meios para tirar todas as pessoas da situação de pobreza e fome, e garantir sua saúde e bem-estar. Vemos apenas a ausência de vontade política para realmente fazê-lo”, afirma Kátia Maia.
“Agora, mais do que nunca, com tal escala de sofrimento humano e desigualdade exposta e aprofundada por múltiplas crises globais, essa falta de vontade é imperdoável e inaceitável. O que a Oxfam espera é que o G20, o Banco Mundial e o FMI suspendam imediatamente as dívidas e aumentem a ajuda aos países mais pobres, atuando para proteger as pessoas comuns de uma catástrofe evitável. O mundo está assistindo”.
As ações urgentes necessárias para o enfrentamento da crescente pobreza extrema no mundo:
- A introdução de impostos únicos e permanentes sobre patrimônio para financiar uma recuperação justa e sustentável da pandemia de Covid-19 – A Argentina, por exemplo, adotou uma taxa especial única apelidada de “imposto do milionário”, que arrecadou cerca de US$ 2,4 bilhões para pagar pela recuperação da pandemia.
- O fim da especulação da crise por meio da introdução de impostos sobre lucros excessivos para captar os lucros inesperados de grandes corporações em todos os setores – A Oxfam estimou que tal imposto sobre apenas 32 empresas multinacionais super-lucrativas poderia ter gerado US$ 104 bilhões em receitas, no ano de 2020.
- O cancelamento imediato da dívida de todos os países em desenvolvimento que precisam de ajuda urgente – O cancelamento da dívida liberaria mais de US$ 30 bilhões em recursos financeiros essenciais, apenas em 2022, para 33 países que já estão sob alto risco de endividamento excessivo.
- Ação para proteger as pessoas do aumento dos preços dos alimentos.