Os desafios que estudantes cotistas e a juventude negra enfrentam nas universidades brasileiras foram o tema central do seminário “Justiça Racial e de Gênero: desafios para a universidade brasileira” realizado pela Oxfam Brasil em parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) nos dias 26 e 27 de abril no Rio de Janeiro.
O seminário reuniu estudantes, professores, coletivos, movimentos estudantis, entidades, e representantes dos governos federal e estaduais para debater o acesso, permanência e a formação da juventude negra no ensino superior do país, que ainda é excludente, mantendo grande parcela da população brasileira afastada desse direito à educação universitária. A desigualdade racial também está presente no corpo docente (de professores, coordenadores e diretores) das universidades, fruto do racismo estrutural do país.
Nos últimos 10 anos, as políticas de ação afirmativa (política de cotas) expandiram e reestruturaram as formas de acesso à universidade brasileira, possibilitando a diversidade de pessoas que ocupam esses espaços, mas isso ainda não é suficiente para resolver o problema da permanência desses jovens no ensino superior.
“O racismo organiza as desigualdades no Brasil. E não há nenhuma outra política que mais reduziu as desigualdades no Brasil do que as ações afirmativas nas universidades. E nenhuma outra política foi tão combatida quanto essa”, afirmou Helio Santos, presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, no primeiro painel do seminário, que tratou de Racismo, Sociedade Brasileira e Direitos Humanos.
“Claro que houve partidos que apoiaram ações afirmativas, mas a iniciativa sempre foi do movimento social negro.”
“A desigualdade, no Brasil, tem gênero e cor”, destacou Helio, lembrando que as desigualdades brasileiras foram organizadas por conta dos mais de 400 anos de escravidão.
Hoje a juventude negra consegue, minimamente, ingressar no ensino superior, mas as circunstâncias muitas vezes não são favoráveis para que o aluno consiga permanecer e chegar à formação. O ingresso na universidade, por si só, não garante as condições mínimas para que seja possível passar pelo processo da graduação com facilidade, e os estudantes continuam enfrentando, cotidianamente, desafios para manterem suas permanências durante a trajetória na universidade.
“As pessoas dizem que aqui (no Brasil) não há racismo porque não há apartheid, mas nosso racismo é muito sutil. Houve políticas racistas com a narrativa de que não eram racistas, como a Lei da Vadiagem, entre outras”, afirmou Andrea Lopes, coordenadora de políticas estudantis na pró-reitoria da UniRio.
Jovens dos mais diversos campos de atuação debateram nos painéis realizados no seminário o tema proposto e indicaram ações necessárias para fortalecer as políticas de acesso e permanência da juventude negra no ensino superior, considerando recortes de raça, gênero e classe social.