Foto: Agência Brasil
Novo relatório da Oxfam revela que 65% das horas de trabalho das mulheres são não remuneradas semanalmente e não são contabilizadas nas medidas oficiais de atividade econômica. O estudo Alternativas Radicais ao PIB destaca como o trabalho de cuidado não remunerado, que representa 45% de todas as horas de trabalho dos adultos globalmente, é excluído dos cálculos do Produto Interno Bruto (PIB) pelo mundo.
Baixe aqui a nota metodológica do estudo.
O documento discute como a dependência excessiva do PIB distorce as prioridades governamentais. As mulheres são responsáveis pela maioria desse trabalho de cuidado não remunerado, totalizando quase 90 bilhões de horas por semana. Há um consenso crescente entre formuladores de políticas e instituições de que o PIB não é mais adequado como principal indicador de progresso econômico e social. Ao excluir muitos fatores que contribuem para a saúde geral da economia e da sociedade, essa métrica baseada no PIB direciona as políticas públicas para prioridades que intensificam a desigualdade, injustiça de gênero, racial e a crise climática.
Para Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, o trabalho não remunerado das mulheres é vital para a economia global, mas é frequentemente ignorado nas estatísticas. “Em tempos de crise climática e desigualdade crescente, precisamos repensar o uso do PIB como principal indicador e adotar métricas que reflitam a realidade de todas as pessoas, incluindo as desigualdades de renda.”
O relatório destaca a necessidade urgente de encontrar alternativas feministas e decoloniais à prevalência do PIB como métrica para a formulação de políticas, incluindo:
- Transformação das Narrativas: É essencial mudar as narrativas nos currículos acadêmicos, no debate político e na mídia, desafiando a ideia de que o crescimento do PIB é sempre positivo. As críticas feministas e decoloniais devem estar no centro dessas discussões, buscando identificar indicadores de prosperidade social alinhados a esses princípios.
- Participação Inclusiva na Reformulação: Para que as alternativas ao PIB reflitam valores e prioridades atualmente negligenciados, é crucial envolver mulheres, povos indígenas e grupos vulneráveis no processo de reformulação. Organizações e instituições globalmente diversas, especialmente aquelas do Sul Global, devem liderar esses esforços, garantindo uma ampla inclusão pública nas agendas.
- Investimento em Alternativas pelo Governo e Instituições: Há uma oportunidade para que entidades governamentais e institucionais invistam em testar e dimensionar alternativas ao PIB. Isso pode envolver incentivos políticos e financeiros para adotar novas métricas, desvincular o PIB de indicadores como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e estabelecer um órgão intergovernamental para unificar conhecimentos, metodologias e terminologias.