Entre 2020 e 2023, os pagamentos totais de dividendos aos acionistas cresceram 14 vezes mais do que os salários dos trabalhadores em 31 países, os quais, juntos, representam 81% do PIB global, como revela a nova análise da Oxfam, divulgada antes do Dia Internacional dos Trabalhadores (1º de maio).
Os lucros totais das empresas estão à beira de ultrapassar o recorde histórico de US$ 1,66 trilhão alcançado no ano passado, de acordo com o Janus Henderson Global Dividend Index. Este índice analisa as 1.200 maiores empresas do mundo, representando 90% dos dividendos totais pagos. Estão disponíveis as informações sobre dividendos e salários referente 31 países no período entre 2020-2023,e a pesquisa da Oxfam revela que:
- Após o ajuste pela inflação, os pagamentos totais de dividendos aumentaram 45% (US$ 195 bilhões) em 31 países entre 2020 e 2023, enquanto os salários cresceram apenas 3%.
- Durante esse período, a remuneração nesses países teve uma queda de 3%, com exceção da China, onde ocorreu a maior parte do crescimento salarial.
A tendência de aumento dos dividendos tem efeitos preocupantes sobre a desigualdade. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) recentemente informou que “a desigualdade de renda aumentou”.
Com base nos dados do Wealth-X, a Oxfam calcula que o 1% mais rico, que atualmente detém 43% de todos os ativos financeiros globais, recebeu em média US$ 9.000 em dividendos em 2023. Isso corresponde a oito meses de trabalho e salário para um trabalhador comum.
“Os lucros das empresas e os pagamentos aos acionistas aumentaram exponencialmente, enquanto os salários permanecem baixos. Milhões de pessoas têm empregos que as mantêm em um ritmo de trabalho intenso, mas que não garantem recursos suficientes para alimentação, remédios e outros itens básicos. Os super-ricos não ganham suas mega-fortunas ‘trabalhando’ – eles tiram esse dinheiro das pessoas que trabalham”, disse o diretor executivo interino da Oxfam International, Amitabh Behar.
A análise feita pela Oxfam sobre os dados da Global Living Wage Coalition (GLWC) de países da África, Ásia e América Latina revela que:
- Apenas 2 países (Turquia e Marrocos) dos 37 analisados têm um salário mínimo acima de um salário digno – uma remuneração que, segundo a GLWC, permite que os trabalhadores supram suas necessidades básicas, como moradia, alimentação, saúde, vestuário e transporte. Os salários mínimos, em média, fornecem apenas 38% do salário necessário para um salário digno.
- O salário mínimo de Bangladesh fornece apenas 6% de um salário digno e, em Gana, fornece apenas 12%.
- O salário mínimo no Brasil é de R$ 1.412 por mês, enquanto o mínimo estimado necessário para garantir um padrão de vida digna é de R$ 3.121 por mês no Estado de São Paulo e R$ 2.621 em Minas Gerais, o que significa que o salário mínimo fornece apenas 44% do que é necessário para uma renda digna em SP e 54% em MG.
Essas informações reforçam os avisos da OIT sobre o aumento do número de trabalhadores que vivem na pobreza – sem recursos suficientes para todas as refeições, acumulando dívidas e ficando sem o básico. Com base nos dados da OIT sobre pobreza no trabalho, a Oxfam constatou que:
- Aproximadamente 1 em cada 5 trabalhadores no mundo ganha um salário abaixo da linha de pobreza de US$ 3,65 PPP.
- 66% dos trabalhadores em países de baixa renda recebem salários de miséria – um nível de remuneração que não ultrapassa a linha de pobreza de US$ 3,65 PPP. Isso representa um aumento de 1% desde 2020, quando houve a reversão de um longo período de declínio.
- O Afeganistão (22%) e o Sri Lanka (9%) registraram alguns dos maiores aumentos na taxa de subemprego atingindo a linha de pobreza de US$ 6,85 PPP
“Nenhuma empresa deveria estar pagando aos acionistas ricos a menos que esteja remunerando todos os seus trabalhadores com um salário digno. Os governos devem limitar os pagamentos aos acionistas, apoiar os sindicatos e estabelecer leis que garantam salários dignos. Deveríamos estar recompensando o trabalho, não a riqueza”, disse Behar.
“No Brasil, a grande maioria da população trabalha, mas não consegue garantir uma vida digna com a renda do trabalho. Cerca de 60% da população ganha até um salário-mínimo. Apenas 30% dos trabalhadores de carteira assinada ganham mais que dois salários-mínimos. Não é possível diminuir de maneira significativa a desigualdade sem que a renda do trabalho melhore” comentou Gustavo Ferroni, Coordenador de de Justiça Rural de Desenvolvimento da Oxfam Brasil.
Confira aqui a nota metodológica sobre os dados apresentados.