Onde estão as mulheres negras na política brasileira? Como explicar o paradoxo de elas serem a maior parte da população do país e ainda serem tão pouco representadas nos espaços de decisão?
É com o objetivo de reverter esse cenário que desde 2021 a Oxfam Brasil, em parceria com o Instituto Marielle Franco, Instituto Alziras e Mulheres Negras Decidem realiza da Jornada das Pretas, que anualmente reúne mulheres negras que são ou serão candidatas as eleições em um espaço de potencialização dessas trajetórias.
Esse ano a Jornada aconteceu em Brasília, nos dias 3 e 4 de julho, reunindo 40 mulheres de todo o Brasil com foco em fortalecer a construção das agendas das participantes, reforçar suas experiências e trajetórias e promover um espaço de encontro seguro e fortalecedor. Bárbara Barboza, coordenadora de Justiça Racial e de Gênero na Oxfam Brasil, diz que a Jornada vai muito além de dois dias de encontro:
A jornada não acaba hoje, a jornada continua. Porque a Jornada é esse grande encontro de mulheres. É um espaço de resistência, de aprendizado e de fortalecimento coletivo. A jornada é contínua porque a luta por direitos, reconhecimento e representatividade não termina."
Bárbara Barboza
O evento começou com atividades de apresentações e acolhimento, elas debateram sobre como tem se dado a experiência de cada uma na vida política. Com a facilitação dos encontros sendo feita por Mônica Oliveira, ela pontua que carrega consigo o seu compromisso com o combate ao racismo em todo lugar que vai:
“O meu projeto de vida é fazer combate ao racismo. Fui treinada por lideranças para dirigir e vou levar essa pauta para onde eu for.”
Também foram discutidos no primeiro dia questões como violência política de gênero e raça, e financiamento e planejamento de campanhas eleitorais. Além disso, o encontro contou com a presença das lideranças Elenizia da Mata, Estela Bezerra e Dani Portela contando uma pouco sobre suas trajetórias políticas.
“Ninguém aqui entrou na política porque o pai, a mãe, ou uma família oligárquica está na política. Estamos aqui para contar as histórias da periferia, dos quilombos, das favelas.” – Estela Bezerra
A comunicação foi o tema central do segundo dia. O dia começou com uma oficinal sobre comunicação para campanhas eleitorais, abordando pontos como as diretrizes para campanhas, o uso de redes sociais e, mais recentemente, de inteligência artificial. Durante a oficina as participantes se dividiram em grupos e desenharam estratégias de comunicação das campanhas eleitorais de suas parceiras.
Roberta Eugênio, Secretária Executiva do Ministério da Igualdade Racial, marcou presença destacando a importância da Jornada das pretas como uma iniciativa crucial para promover soluções efetivas na política brasileira. Ela enfatizou que a participação ativa das mulheres negras em todos os espaços é fundamental para construir um futuro mais inclusivo e equitativo para o país:
“A Jornada das pretas é parte de uma das ações que a gente visa construir para trazer a solução, e a solução passa pela nossa presença em todos os lugares. Então espero que a Jornada contribua para que vocês estejam onde vocês desejam estar e onde esse país precisa que vocês estejam.” ressaltou Roberta durante sua participação no evento.
À tarde, as 40 mulheres participaram de uma oficinal de media training, que é a preparação para lidar como porta-voz de uma causa e dialogar com a imprensa sobre isso. As participantes foram convidadas a refletir sobre a origem das suas dificuldades e descobrir nelas a chave para desconstruí-las.
“Nós mulheres negras somos convidadas a ocupar, porque nunca fomos convidadas a falar” – Mayara Batista (participante da 4ª Jornada das Pretas)
A gente precisa estar o tempo todo se afirmando nos espaços onde estamos, pois as pessoas querem pautar o que podemos ou não falar. Eu sou mulher e negra e, portanto, sempre vou falar de combate ao racismo.” – Rosa Negra (participante da 4ª Jornada das Pretas)
Por fim, a 4ª edição da Jornada das foi finalizada com construção da Carta Preta, um documento no formato manifesto construído coletivamente em defesa de uma política mais justa e representativa para as mulheres negras.
Confira alguns registros do encontro: