No dia 5 de setembro, celebra-se o Dia Nacional da Amazônia, uma data que nos convida a refletir sobre a importância desse bioma vital para o planeta e sobre os desafios urgentes que ele enfrenta. Neste contexto, questões como justiça climática, racismo ambiental e financiamento climático ganham ainda mais relevância, especialmente com a aproximação da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 29). Esses tópicos não são apenas conceitos abstratos, eles representam a luta por uma transição energética justa que não deixe ninguém para trás.
A COP 29, que ocorrerá em novembro deste ano, é um espaço para discutir as políticas climáticas globais. No entanto, é essencial que essas discussões incluam a perspectiva da justiça climática, que reconhece que os impactos das mudanças climáticas não são distribuídos de maneira equitativa. Comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e populações urbanas vulneráveis da Amazônia são frequentemente as mais afetadas por eventos climáticos extremos, como secas e inundações, mas são também as que menos contribuem para o problema. Este é um exemplo claro da desigualdade do impacto, onde aqueles que menos poluem são os que mais sofrem com as consequências.
Na COP 29, espera-se que os líderes mundiais se comprometam com metas mais ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que garantam recursos adequados para apoiar essas comunidades na adaptação às mudanças já inevitáveis. Este é um passo necessário para garantir que a transição energética seja justa e inclusiva, respeitando os direitos humanos e garantindo que todas as vozes sejam ouvidas.
Racismo ambiental e desigualdade de impacto
O conceito de racismo ambiental surge da percepção de que há uma distribuição desigual dos riscos e impactos ambientais, afetando desproporcionalmente comunidades negras, indígenas e pobres. Na Amazônia, isso se traduz em um cenário onde comunidades tradicionais sofrem com o desmatamento, a poluição dos rios e a perda de territórios, enquanto grandes empresas e grupos econômicos se beneficiam da exploração desenfreada dos recursos naturais.
A desigualdade do impacto é evidente quando observamos como as mudanças climáticas exacerbam as condições de vida de comunidades marginalizadas. A falta de infraestrutura adequada, acesso limitado a serviços básicos e a dependência direta dos recursos naturais tornam essas populações mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos e às mudanças no ecossistema.
Financiamento climático e a necessidade de uma transição energética justa
Para enfrentar os desafios colocados pela crise climática na Amazônia, é essencial que haja um comprometimento sério com o financiamento climático. Isso significa direcionar recursos para políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável, a preservação ambiental e o fortalecimento das comunidades locais. O financiamento climático deve ser direcionado de maneira a garantir que os recursos cheguem às mãos das populações que mais necessitam, sem a interferência de interesses econômicos que perpetuem a desigualdade.
Uma transição energética justa é aquela que reconhece e corrige as desigualdades históricas e contemporâneas. É um processo que deve garantir que as mudanças necessárias para combater as alterações climáticas não deixem ninguém para trás, especialmente aqueles que estão na linha de frente dos impactos. Isso inclui a promoção de energias renováveis e a criação de empregos sustentáveis que beneficiem diretamente as comunidades locais, sem repetir padrões de exploração e exclusão.
Por fim, o Dia Nacional da Amazônia é um chamado para que repensemos nossas políticas e práticas em relação a este bioma vital. É um lembrete de que as soluções para a crise climática devem ser inclusivas e equitativas, levando em conta a justiça climática e combatendo o racismo ambiental. O caminho para uma transição energética justa passa pelo reconhecimento das desigualdades e pela promoção de uma distribuição justa dos recursos, garantindo que todas as vozes sejam ouvidas e que nenhuma comunidade seja deixada para trás.
Neste dia, reforçamos a necessidade de ações concretas e comprometidas para proteger a Amazônia e seus povos, garantindo um futuro sustentável e justo para todos. A luta pela Amazônia é uma luta pela justiça climática e pelo direito de todos a um ambiente saudável e seguro.
Viviana Santiago é diretora-executiva da Oxfam Brasil