“O que há por trás das frutas que comemos?”. Essa foi a questão central do debate realizado no Dia Mundial da Alimentação (16/10), na livraria Tapera Taperá, em São Paulo, que reuniu pesquisadores, trabalhadores rurais e integrantes da Oxfam Brasil – organizadora do evento.
Antes do debate, foi exibido ao público o filme Frutas Doces, Vidas Amargas que mostra a dura realidade dos trabalhadores e trabalhadoras de cadeias de frutas no Nordeste. O filme é parte da campanha que a Oxfam Brasil lançou no último dia 10 de outubro juntamente com um relatório que traz os dados dos principais problemas enfrentados no campo.
Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, abriu o evento falando sobre a importância de se fazer esse diálogo no Dia Mundial da Alimentação.
“O mundo produz alimentos suficientes para todas as pessoas, mas ainda tem 800 milhões de pessoas passando fome. Isso não é só pelo acesso, mas também pela forma como a cadeia alimentar é concentrada nas mãos de poucos”.
Quando se trata do contexto brasileiro, essa assimetria de poder é ainda mais forte. Em um contexto de crise econômica e desemprego, em que os direitos trabalhistas são ameaçados, é importante lembrar que no caso dos trabalhadores rurais, esses direitos muitas vezes nem são alcançados. G
“Os direitos trabalhistas chegaram com 30 anos de atraso no campo”, afirmou Gustavo Ferroni, coordenador de Setor Privado e Direitos Humanos da Oxfam Brasil. Ele lembra que a CLT foi criada em 1943, mas a lei que regulariza o trabalho rural chegou apenas em 1973.
Responsabilidade dos grandes supermercados brasileiros
Gustavo apresentou a campanha da Oxfam Brasil para pressionar os 3 maiores supermercados brasileiros, Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, para que exijam dos grandes produtores condições dignas aos trabalhadores. Responsáveis por 43% da compra de frutas no Brasil, esses supermercados têm poder para exigir melhorias.
Jocelino Dantas, da FETARN, falou sobre a situação dos trabalhadores rurais do Rio Grande do Norte, em especial sobre os safristas, que vivem submetidos a péssimas condições de trabalho. “Existe esse discurso de que a agricultura é o setor que mais gera empregos no país, mas será que nós estamos preparados para saber que tipo de emprego é esse?”
Queremos frutas com sabor de dignidade! Assine a petição!
Os baixos salários decorrentes desses contratos temporários também são uma grave questão no campo, como destacou Patricia Pelatieri do Dieese. Apesar de receberem remuneração um pouco maior que um salário mínimo, o valor é diluído nos meses sem contrato e as famílias não conseguem se manter.
“Em um setor tão rico como a agricultura essa riqueza precisa ser melhor distribuída”, pontua Pelatieri. Patricia ainda reformou o papel de organizações como a Oxfam Brasil no apoio a esses trabalhadores.
“Os trabalhadores em condições tão desiguais, dificilmente conseguiriam sozinhos, por mais que se organizem, superar essa violência enorme que é a exploração do trabalho rural.”
A importância dos sindicatos rurais
José Manuel dos Santos, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (STTR) de Juazeiro destacou a importância dos sindicatos nas negociações com as grandes empresas produtoras para garantia dos direitos.
“Após a reforma trabalhista pioraram as condições de trabalho no campo com o desmonte dos órgãos fiscalizadores”, afirma José Manuel.
Marcel Gomes da ONG Repórter Brasil reforça a importância da responsabilidade das empresas da ponta nas cadeias produtivas. “Quando você reconhece os problemas, monitora e identifica as empresas, você coloca pressão pública sobre as empresas e ajuda a melhorar”.