Foto: André Teixeira/Oxfam Brasil
O preconceito que a população pobre e negra das favelas sofre no Brasil é retrato do racismo estrutural que transbordou com mais força na pandemia de coronavírus, afirmou Preto Zezé, presidente internacional da ntral Única das Favelas (Cufa), que participou de live em nosso canal no Youtube nesta quinta-feira (25/6). ” Temos um racismo à brasileira: todo mundo admite que existe, mas ninguém aceita que pratica.”
Segundo Preto Zezé, o impacto da covid-19 sobre os brasileiros é bem diferente para pretos e brancos, pobres e ricos. “Muito se fala que estamos todos no mesmo barco nessa pandemia. Não é verdade. Nesse naufrágio, muitos estão no mar sem boia e outros tantos já morreram, enquanto alguns andam de jet ski e iate, fazendo churrasco.
Além de Preto Zezé, a live da Oxfam Brasil contou com a participação da deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG) para discutir as desigualdades brasileiras e o racismo em meio à pandemia de coronavírus. O bate-papo online foi mediado por Kátia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.
Veja a íntegra da live:
Protestos antirracistas
As recentes ondas de protestos antirracistas que eclodiram em todo o mundo, devido ao assassinato de George Floyd nos Estados Unidos em maio por um policial branco, e a morte do menino Miguel, de 5 anos, filho de empregada doméstica no Recife (PE), reavivaram as discussões sobre o racismo estrutural e as desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira.
“Todo mundo está espantado com a morte de George Floyd nos Estados Unidos, mas no Brasil morre um George Floyd todos os dias. São 45 mil ‘Georges Floyd’ mortos por ano. E fica tudo como está”, afirmou Preto Zezé.
À margem das discussões de projeto para o país
O presidente da Cufa aponta ainda que as comunidades carentes estão sempre à margem das discussões de políticas públicas e de projeto para o país. “É negado à população da favela o direito de fazer parte da sociedade e de participar do projeto de país. Portanto, não haverá saída para o Brasil se não incluir a população negra. Não estamos falando de uma minoria, estamos falando de mais da metade da população”.
Kátia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, concordou com Preto Zezé, aproveitando para citar o manifesto publicado recentemente pela Coalizão Negra Por Direitos. “Mais do que nunca é preciso entender que não teremos uma democracia de fato enquanto houver racismo no país.”
Para a deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG), o negacionismo do governo federal em relação aos direitos sociais da população e também em relação à pandemia tem agravado o problema, que afeta principalmente as mães negras e em situação de vulnerabilidade.
Ela questiona o papel da democracia em que vivemos, em que o Estado foi pouco a pouco recuando das suas funções de dar condições básicas de cidadania a todos. “É impossível haver democracia se não houver respeito à vida das pessoas, se todos não tiverem o mesmo valor e mesmos direitos”.