Foto: André Teixeira/Oxfam Brasil
A pandemia de coronavírus gerou uma gigantesca crise sanitária e econômica no Brasil e no mundo. No entanto, enquanto a maioria da população sofriam os impactos negativos da pandemia, algumas grandes corporações lucraram bilhões no período. Como pode?
Com a chegada do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, em fevereiro de 2020, os governos estaduais começaram a adotar e incentivar medidas protetivas à população, como distanciamento social, isolamento, fechamento dos comércios, entre outras mudanças que impactaram diretamente a economia do Brasil e do mundo.
Com objetivo de minimizar esses impactos, o governo federal realizou ações em parceria com bancos públicos, a fim de manter o dinheiro circulando e possibilitar crédito para as empresas. Facilitou ainda o saque de INSS, adiantamento de 13º, concessão do auxílio emergencial, entre outras medidas.
Contudo, as ações foram insuficientes, quando não, tardias. O impacto socioeconômico da pandemia na vida das pessoas em situação de vulnerabilidade foi grande.
Impacto no desemprego e falência de empreendimentos
Com o isolamento social, o desemprego e o fechamento temporário das lojas, a população diminuiu o consumo no varejo. Os comércios locais, restaurantes e profissionais autônomos foram os primeiros a sentir o impacto financeiro do distanciamento.
O Sebrae realizou uma pesquisa que apresenta como a pandemia afetou as pequenas empresas no Brasil. Cerca de 10 milhões de empreendimentos precisaram interromper suas atividades temporariamente. Muitas pequenas empresas tiveram que demitir seus funcionários, reduzir quadro de vagas e a escala de trabalho.
Essa situação das empresas impactou diretamente no número de desemprego no Brasil, que saltou de 11,2% para 12,6% durante a pandemia. O índice pode ser ainda pior, dado que, com as medidas de distanciamento social, o número de pessoas procurando emprego também foi reduzido.
Foi só após quatro meses desde o início da pandemia de covid-19 que os pequenos negócios começaram a receber o crédito disponibilizado pelo governo federal. No entanto, à época, muitos negócios já haviam falido e fechado as portas .
Crédito escasso para micro e pequenas empresas
Menos da metade dos empreendimentos conseguiram acesso ao crédito, fator agravado pela recusa dos bancos de disponibilizar os recursos devido à falta de documentação, restrições em CPF e negativações no Serasa. Atualmente, as micro e pequenas empresas representam 27% do PIB brasileiro, movimentando mais de R$ 599 bilhões anualmente.
Durante essa crise, mais de 700 mil autônomos ficaram sem renda, a maioria mulheres e negros. Muitos destes são a única fonte de renda para toda a família, que hoje sobrevivem com a ajuda de iniciativas sociais desenvolvidas por organizações em todo o Brasil.
Grandes corporações e lucros na pandemia
Apesar do cenário de crise para os mais vulneráveis e para os pequenos empresários, tem gente lucrando, e não é pouco. O número de grandes corporações que, na verdade, cresceram e aumentaram seus lucros é assustador. As medidas de isolamento social trouxeram a possibilidade de desenvolvimento de novos negócios e aumento da venda de outros.
A Amazon, empresa de comércio online, por exemplo, teve um aumento de vendas de R$ 63 mil por segundo! Empresas de entrega como Ifood, Rappi e UberEats tiveram aumento de 30% no número de pedidos. A concentração de renda aumentou durante a pandemia do novo coronavírus e os bilionários ficaram ainda mais ricos.
No dia 10 de setembro, a Oxfam lançou o relatório “Poder, Lucros e Pandemia” mostrando como os 25 maiores bilionários do mundo aumentaram sua riqueza em U$ 255 bilhões nos três primeiros meses da pandemia (de março a maio de 2020).
Já as 32 empresas mais rentáveis do mundo, ainda de acordo com o relatório, conseguiram U$ 109 bilhões a mais em lucros do que a média obtida nos últimos 4 anos (de 2016 a 2019). E, apesar das grandes campanhas de doação divulgadas neste período, apenas 0,5% do lucro das empresas foi repassado para projetos sociais.
O que podemos esperar do futuro?
A pandemia mostrou como a desigualdade social atinge sempre os mais pobres, e isso não foi diferente durante a pandemia. Eles carregaram o peso da crise provocada pelo coronavírus praticamente sozinhos.
Como resposta, o mundo vai exigir melhorias, mudanças políticas e reformulações econômicas e sociais. A principal mudança debatida é tributar os super-lucros excedentes obtidos durante a pandemia, o que geraria uma receita de bilhões de dólares para um novo começo.
Economistas e políticos vêm discutindo sobre a Renda Básica Universal permanente como política para redução da desigualdade social e apoio aos milhões de afetados pela pandemia.
Taxação das grandes fortunas
Além de propostas de mudanças na governança corporativa, distribuição de lucros e responsabilidade social em todo o mundo, no Brasil a taxação sobre grandes fortunas é alvo de debates e propostas há muitos anos, mas não há ainda grandes avanços.
O sistema tributário brasileiro foi desenhado de uma forma que quem ganha menos paga, proporcionalmente, mais impostos do que quem ganha mais. A parcela mais rica da população leva a vantagem. A taxação sobre grandes fortunas tem como princípio reduzir as desigualdades por meio de um imposto de 0,5% aplicado nos patrimônios líquidos acima de R$ 22,8 milhões, gerando uma arrecadação de até 80 bilhões de reais por ano.
Apesar de muitos dizerem ser uma medida arbitrária, ela já está prevista na nossa Constituição no inciso VII do artigo 153, porém, nunca foi regulamentada. Você pode ver mais sobre esta e outras propostas no nosso relatório.