No dia 16 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Alimentação. A data foi criada em 1981 pela agência de Alimentação e Agricultura (FAO) da Organização das Nações Unidas (ONU) com objetivo de conscientizar sobre a desigualdade de alimentação no mundo, debater sobre segurança alimentar, melhoria na cadeia produtiva e direitos para agricultores rurais — que têm seus direitos constantemente violados.
Apesar da criação da data há 39 anos, o tema alimentação segura é um debate recente. Nossa cadeia produtiva não é formada para garantir segurança alimentar para os consumidores ou trabalhadores rurais.
Com a crise provocada pela pandemia de coronavírus, o primeiro receio da população foi o desabastecimento de alimentos nos supermercados e o impacto na produção agrícola. Porém, o impacto foi muito diferente do previsto. Veja mais a seguir!
Dia Mundial da Alimentação 2020: Cresça, alimente, sustente. Juntos!
A cada ano a ONU traz um novo tema para a comemoração deste dia, cujos assuntos são sempre abordados com intuito de conscientizar as pessoas.
Neste ano de 2020, o tema é “Cresça, alimente, sustente. Juntos”. Com um vídeo temático com a chamada #FoodHeros, as Nações Unidas querem conscientizar sobre a importância de uma agricultura sustentável, atendimento às comunidades carentes e uma cadeia produtiva mais sustentável e segura, convocando as pessoas a serem heróis da comida.
Em seu site, a ONU elaborou uma lista de ações a serem realizadas no cotidiano para causar impactos positivos na cadeia produtiva. Por exemplo:
- priorizar dietas mais saudáveis;
- diversidade de alimentos;
- incentivo aos comércios locais;
- comer apenas alimentos da estação para reduzir a emissão de carbono com a importação de outras regiões;
- apoiar o desenvolvimento de ações de nutrição em escolas;
- desenvolvimento de plantações em casa;
- ou ainda, ser voluntário em bancos de comidas e ações locais.
Com a pandemia da COVID-19, muitas famílias passaram a incorporar esses temas em sua rotina. Um dos termos mais pesquisados na internet foi o “plantação em casa”. Outro movimento que surgiu em alguns grupos foi o da redução de lixo e a promoção do trabalho de comerciantes e produtores locais. No entanto, o movimento ainda é pequeno se comparado às graves consequências das desigualdades socioeconômicas no mundo.
Trabalhadores rurais e condições de trabalho
O Dia Mundial da Alimentação é importante para dar luz ao debate sobre a presença cotidiana da agricultura na nossa vida e também a sua participação fundamental na economia do país. No Brasil, um a cada quatro postos de trabalho é preenchido pela cadeia da agricultura, o que tornou a área responsável por 21,4% do PIB brasileiro em 2019.
Apesar da enorme participação, a condição de trabalho dos agricultores é análoga à escravidão, desde 1995 foram mais de 50 mil trabalhadores rurais resgatados. As condições de trabalho beiram o desumano, há casos de trabalhadores que cortam 12 toneladas de cana por dia e realização caminhadas de mais de 8km para ir e voltar do trabalho.
Muitos tiveram que suspender as atividades de produção devido às medidas de contenção de propagação do vírus, piorando a condições de milhares de famílias que têm na agricultura sua única forma de sobrevivência. Sem produzir, sem vender, eles não têm renda.
Esses trabalhadores compõem uma parte invisível da sociedade, onde as leis de segurança não se aplicam e não são monitoradas no cotidiano, ainda mais em período de pandemia.
A Oxfam Brasil recebeu relatórios de organizações parceiras que mostram como eles estão mais vulneráveis ao coronavírus. Estão expostos diariamente a pesticidas e venenos que enfraquecem os pulmões. Além disso, muitas empresas que compram os alimentos destes produtores não distribuíram equipamentos de proteção individual, álcool em gel e luvas, dificultando a proteção desses trabalhadores.
O Governo Federal implementou uma série de medidas insuficientes para a prevenção ao coronavírus no campo. Foram dispostas pias com água, sabão e álcool em gel para os trabalhadores. Contudo, o monitoramento dessas restrições e orientações é escasso e difícil de ser implementado.
Segurança alimentar e segurança do alimento
Antes da pandemia, estimava-se que um trilhão de dólares em produção de alimentos era desperdiçada e a maior parte disso vinha do lixo doméstico. Enquanto mais de 30% da produção de alimentos é desperdiçada antes mesmo de chegar nos mercados, milhões de pessoas passam fome no mundo.
Esses dados mostram a desigualdade alimentar existente no mundo e como temas sobre a agricultura sustentável, democrática e a melhoria das cadeias produtivas são ações essenciais para redução da fome mundial.
Com a pandemia e as medidas de isolamentos, as pessoas ficaram mais cuidadosas e desperdiçaram menos. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, mostra que os resíduos domiciliares caíram 7,2% em comparação com o ano passado e a coleta de materiais recicláveis aumentou em 25%, isso porque há menos orgânicos e mais embalagens — consequência do aumento de compras de alimentos online.
Ao mesmo tempo, há preocupação com a segurança dos alimentos, ou seja, limpeza, higienização e uso de agrotóxicos aumentou durante a pandemia. As normas técnicas, sanitárias e fitossanitárias foram intensificadas pelas agências de saúde em todo o mundo. Muitas famílias passaram a utilizar hortas plantadas em casa e priorizarem o consumo de alimentos sem uso de agrotóxicos.
Não podemos negar a relevância da agricultura durante a pandemia para manter os mercados abastecidos e trazer alimentos saudáveis para nossa mesa.
Por isso, chamamos você para ajudar e apoiar os trabalhadores e trabalhadoras que estão na base da cadeia produtiva brasileira e sofreram grandes impactos com a pandemia.
Pressione os supermercados a comprarem produtos apenas de empresas com a cadeia produtiva certificada, que não aceitem produtos de revendedores com trabalho escravo e priorizem a compra de produtos sem agrotóxicos.
Vida digna para os trabalhadores e trabalhadoras da cadeia de frutas
A Oxfam Brasil lançou uma campanha para exigir dos três maiores supermercados do país — Pão de Açúcar, Big e Carrefour — que garantam uma vida digna para as trabalhadoras e trabalhadores da cadeia de frutas no país. Milhares de pessoas que plantam e colhem nossas frutas sofrem com baixos salários, empregos temporários e altos riscos de contaminação por agrotóxicos.
Enquanto frutas brasileiras como a uva, a manga e o melão fazem sucesso pelo mundo, as trabalhadoras e os trabalhadores que produzem ela estão entre os 20% mais pobres do Brasil. Isso não é digno! Mas você pode ajudar a mudar essa situação.