Conte um pouco sobre sua história.
Eu comecei a desenhar como todos nós, como todo mundo. Aos dois anos de idade. A diferença é que eu tive sorte e continuei, e as outras pessoas geralmente param de desenhar. Desenhar na verdade é nato. É que nem dançar. A criança quando você bota música ela dança. E a gente desaprende a dançar, e a desenhar. É uma questão curricular mesmo. Falta de interesse em estimular duas coisas tão naturais no prosseguimento da vida adulta.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
A desigualdade brasileira ela se inaugura quando o primeiro barco português toca a praia. E a construção da sociedade brasileira ela é feita em cima da desigualdade econômica e social. Com a escravidão, com a perseguição dos índios, com o não entendimento de que a beleza de um país é a pluralidade. A gente tem a escravidão profundamente enraizada no brasileiro, e principalmente na elite brasileira. A desigualdade racial, inclusive, está atrelada à desigualdade econômica. O racismo caminha junto com as mazelas sociais e econômicas.
Fale um pouco sobre o seu desenho no calendário Oxfam Brasil 2021.
O desenho tem um cunho meio pedagógico, porque o brasileiro está precisando muito entender a diferença entre elite e classe média, capital e trabalho. Aquela questão básica de consciência de classe mesmo, sabe? A classe média, por exemplo, se sente mais perto de uma elite e dos ricos, do que dos pobres. Quando não é verdade isso. É muito mais fácil alguém de classe média empobrecer do que enriquecer.