Dia 13 de maio é marcado como o Dia da Abolição da Escravatura, data em que a princesa Isabel, regente do Império na ocasião, assinou a Lei Áurea a qual, em tese, concedia liberdade às pessoas negras escravizadas.
O evento ficou conhecido como um ato de benevolência e a princesa, como uma heroína branca responsável pelo fim da escravidão. Mas são muitas as questões envolvidas.
Primeiro, essa construção histórica de Isabel como símbolo da libertação ignora totalmente a luta travada há séculos pelos povos escravizados. Segundo, não se tratou de um ato de bondade, mas político, pois não era mais vantajoso economicamente manter pessoas escravizadas.
A criação do mito da princesa Isabel como heroína passa pelo apagamento da história de Zumbi dos Palmares, Dandara, Luís Gama e de outras pessoas negras que foram protagonistas da luta pela libertação. A abolição foi uma conquista dos próprios povos escravizados. A tentativa de apagamento dessa história é mais uma face do racismo em nosso país.
A Lei Áurea também não garantiu o fim da escravidão porque não foi reparativa, ela apenas deixou de reconhecer o direito à propriedade de uma pessoa sobre outra. Na prática, as pessoas negras que eram escravizadas foram abandonadas à própria sorte, sem emprego, sem ter onde viver, sem documentos e, por isso, novamente obrigadas a trabalhar em locais que remuneravam muito mal ou apenas ofereciam comida como pagamento.
Os reflexos de séculos de escravidão e da forma que se deu a abolição são vistos ainda nos dias de hoje. São as pessoas negras que continuam sendo maioria no trabalho doméstico e a receber os piores salários, quando não escravizadas. Essa ainda é parcela mais pobre da população e a principal vítima da violência do estado.
Por isso, o 13 de maio não é um dia de comemoração, mas de rememorar a história da abolição do povo preto que foi escravizado em nosso país e que segue resistindo por condições mais dignas de vida.