A pandemia da Covid-19, que no Brasil não dá sinais de trégua, afetou de maneira diferente os diversos segmentos da população do país. É sabido que pessoas negras morrem mais da doença e são menos contempladas pelo plano de vacinação. No entanto, pouco se fala sobre as consequências da crise sanitária para os povos indígenas brasileiros.
Diversos fatores contribuem para que os povos tradicionais brasileiros sejam afetados de maneira particular pelo vírus, e todos eles precisam ser admitidos e expostos. Caso contrário, erros que historicamente prejudicam a sobrevivência de pessoas indígenas continuarão acontecendo e as desigualdades que as afetam só se agravarão.
A pandemia e questão territorial indígena
De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), aproximadamente 5 milhões de pessoas compõem a população indígena brasileira. São pessoas que têm formas próprias de se organizar socialmente, são culturalmente diferenciadas, se reconhecem desta forma e, além disso, ocupam aproximadamente 25% do território nacional brasileiro.
É importante ressaltar que as invasões a terras indígenas e a violência contra essas populações são alguns dos principais dramas vividos por eles. E isso não parou de acontecer mesmo durante a pandemia.
As terras indígenas no Brasil vêm sendo invadidas e destruídas há anos – em geral, por garimpeiros e grileiros de terras – mas durante a pandemia de covid-19 isso ganhou proporções ainda maiores.
Como a Covid-19 afetou as pessoas indígenas?
Antes de focar nos números de indígenas infectadas e mortas pela doença, é preciso lembrar que o monitoramento dos povos isolados é uma tarefa complexa. Por isso, apresentaremos os dados obtidos e divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e informações divulgadas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Oficialmente, até 20 de abril de 2021, 46.820 pessoas indígenas foram contaminadas pela Covid-19. Dessas, 640 morreram.
A compilação de dados da Apib tem sido feita pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena e por organizações indígenas que fazem parte da articulação. Outras frentes de enfrentamento à Covid-19 organizadas no Brasil também têm colaborado com a iniciativa. Diferentes fontes de dados têm sido utilizadas nesse esforço, além da própria Sesai,o comitê tem analisado dados das Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e do Ministério Público Federal.
Quando falamos nas mortes de pessoas indígenas, é preciso lembrar que falamos também de uma cultura majoritariamente oral, e a perda de uma figura experiente significa perder uma fonte de ensinamentos.
“Essa é uma doença que infelizmente levou parte da biblioteca dos povos indígenas. Algumas pessoas que se foram são os anciões e as anciãs e que estavam fortes e transmitindo as suas práticas na região. Isso é bastante triste, é um pesar”.
Carla Dias, antropóloga do Instituto Socioambiental (ISA).
Os fatores que contribuem para a vulnerabilidade dos povos tradicionais
Indígenas e não indígenas são vulneráveis ao vírus. Mas questões particulares ao primeiro grupo fazem com que a propagação da doença aconteça de maneira mais letal. A dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a indisponibilidade ou insuficiência de equipes de saúde são alguns dos principais fatores.
Os costumes de diversos povos criam uma maior exposição às doenças infecciosas. Parte considerável da população indígena vive em casas coletivas. Além disso, é comum o compartilhamento de utensílios, como cuias, tigelas e outros objetos, o que faz crescer as chances de contágio.
Um ótimo exemplo de como questões particulares aos indígenas contribuem para a disseminação da covid-19 é o quadro observado no município de São Miguel da Cachoeira, no Amazonas, que esteve em primeiro lugar em casos confirmados de covid-19 em municípios brasileiros com até 100 mil habitantes.
Dos 45 mil habitantes de São Miguel da Cachoeira, mais de 90% são descendentes de alguma das 23 etnias que vivem na região. Além da falta de estrutura e da existência de apenas um hospital disponível para toda a população, outro fator contribuiu para a propagação da doença: o transporte por barcos.
“É uma região bastante distante, onde o principal meio de acesso são os barcos e a gente sabe que essas embarcações sempre estão bastante cheias, as redes ficam muito próximas uma da outra, então o transporte fluvial na Amazônia foi um grande vetor de disseminação dessa doença”, afirma Antonio Olviedo, pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA). Essa mesma dinâmica dificulta o acesso aos serviços de saúde, pela parcela da população indígena que vive em aldeias distantes.
A vacinação continua sendo a saída mais viável
Vacinar a nossa população de maneira efetiva e com mais agilidade é a única possibilidade de enfrentamento da Covid-19. Por isso, junte-se a nós neste esforço e assine a nossa petição Vacina Para Todos! Sigamos juntos na busca por um Brasil com mais justiça e menos desigualdades.