No contexto em que estamos, em que a pandemia do coronavírus assola o mundo, é importante se falar também sobre a situação nos campos de refugiados. Se os efeitos já são devastadores em grandes centros urbanos com estrutura de saúde e acesso à saneamento, então imagine como estão os campos de refugiados, onde as condições são precárias.
Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), existem hoje 25,9 milhões de refugiados em todo o mundo. Desastres climáticos são a principal causa de deslocamento. Mas as razões que obrigam pessoas a deixar tudo para trás também passam por perseguições relacionadas a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política. Além disso, também há casos graves de violação de direitos humanos e conflitos armados.
Água e sabão no combate à pandemia de coronavírus
Como tem sido amplamente divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), lavar as mãos com água e sabão é o método mais eficaz para impedir que o coronavírus continue se espalhando. Além disso, o isolamento social é necessário e tem se mostrado extremamente eficaz para diminuir o pico no número de casos e evitar o colapso dos sistemas de saúde.
Então, como garantir a higiene quando não há sequer um sistema de saneamento básico?
Em campos de refugiados e falta de acesso à água potável gera a proliferação de doenças que podem ser mortais, como a cólera. Segundo este relatório da ONU, doenças causadas por água suja e falta de saneamento básico matam mais pessoas a cada ano do que todas as formas de violência, incluindo guerras. Sendo assim, este é um dos problemas de saúde mais urgentes do mundo.
Grandes campos de refugiados, grandes riscos de coronavírus
Segundo um relatório da Acaps, organização independente de análises humanitárias internacionais, a densidade populacional dos 34 campos de refugiados em Bangladesh, por exemplo, é de 40 mil pessoas por quilômetro quadrado. Isso dá mais de seis vezes a concentração existente em Wuhan, na China, onde a pandemia de coronavírus começou.
Bangladesh é o país que abriga um dos maiores campos de refugiados do mundo, Cox’s Bazar. Lá vivem cerca de 855 mil rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida em Mianmar, país vizinho.
Mesmo antes da ameaça do coronavírus, o saneamento sempre foi uma questão em Cox´s Bazar e tantos outros campos de refugiados. Em 2018, mais de 200 mil casos de diarreia aguda foram diagnosticados nos campos dos refugiados rohingya em Bangladesh. Além disso, houve diversos casos de infecções respiratórias e doenças de pele, como sarna – todas relacionadas às más condições locais de saúde e higiene. Em 2019, a Oxfam inaugurou em Cox´s Bazar a maior usina de tratamento de resíduos sólidos já construída em um campo de refugiados, beneficiando milhares de rohingyas.
250 refugiados para cada torneira: o risco de coronavírus
Os padrões adotados nos campos de refugiados, acordados pelas agências que respondem às crises humanitárias, simplesmente não foram projetados para lidar com uma pandemia global como a de coronavírus. Sendo assim, temos um problema grave.
Segundo um levantamento da Oxfam, cada torneira é usada, em média, por 250 pessoas nos campos de refugiados em todo o mundo. São 250 pessoas tocando a mesma torneira com alto risco de contaminação. Além disso, muitos têm menos 3,5 metros quadrados de espaço para viver, o que torna o isolamento social quase impossível.
O coronavírus em regiões de conflitos
Não é apenas a relação entre refugiados e a pandemia de coronavírus que é problemática. A pandemia também pode ser catastrófica para pessoas que vivem em lugares atingidos por conflitos, como Iêmen, Síria e Sudão do Sul. Esses países já enfrentam desnutrição e doenças como cólera, além de falta de água potável e instalações de saúde.
No campo de Moria, na ilha grega de Lesbos, que foi construído para 3 mil pessoas, agora abriga quase 20 mil pessoas. Com isso, até 160 pessoas usam o mesmo banheiro e mais de 500 compartilham o mesmo chuveiro. Em algumas partes do campo, 325 pessoas compartilham uma torneira e não há sabão. Abrigos improvisados chegam a ter até 20 pessoas.
Esse é o panorama da relação entre refugiados e a pandemia de coronavírus.
Coronavírus além das fronteiras
A OMS recomenda que as pessoas devem ficar a um metro de distância de qualquer pessoa que esteja tossindo ou espirrando. Além disso, todos devem lavar as mãos com frequência e procurar ajuda médica apenas se manifestarem sintomas graves, para evitar a disseminação do coronavírus.
Para a líder de operações de resposta ao coronavírus da Oxfam, Marta Valdes Garcia, o número de mortes em todo o mundo está aumentando rapidamente, mas isso será apenas a ponta do iceberg se e quando o vírus se espalhar para as comunidades mais vulneráveis do mundo.
“Embora muitas nações estejam compreensivelmente focadas em conter a propagação da pandemia entre sua própria população, é crucial que não deem as costas à milhões das pessoas mais vulneráveis do mundo. A comunidade internacional precisa mobilizar enormes recursos se quisermos honrar a promessa de “ninguém está seguro até que estejamos todos seguros.”
Como a Oxfam tem ajudado
A experiência da Oxfam é em água, saneamento, higiene e promoção da saúde pública – vital para qualquer tentativa de gerenciar as taxas de contaminação. Assim, a Oxfam está trabalhando em estreita colaboração com organizações parceiras locais para melhorar a vida dos refugiados em meio à pandemia de coronavírus. A ideia é aumentar o número de torneiras e sistemas de distribuição de água, banheiros e engajamento das comunidades sobre melhores práticas de higiene.
As mulheres geralmente são as mais atingidas durante emergências e, na medida em que realizam a maior parte do trabalho de cuidado, são especialmente vulneráveis à exposição ao vírus. A Oxfam também está preocupada com o risco de violência baseada em gênero, pois as famílias são forçadas a permanecer em suas casas e os centros e redes de apoio para mulheres são fechados.
Sendo assim, comunidades, organizações de mulheres e refugiados já estão se mobilizando, e a Oxfam está trabalhando ao lado delas, para atender às necessidades dos mais vulneráveis, ampliando seu trabalho para ajudar as pessoas nos países mais pobres a ganhar a vida e alimentar suas famílias caso o coronavírus as atinja.
Esforços para responder a crises humanitárias em vários locais, como Iêmen e Síria, já estavam subfinanciados. Agora, eles devem competir entre si pelos recursos para combater o coronavírus, enquanto o mundo sofre com os efeitos econômicos de paralisações generalizadas.
E você pode ajudar!