Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Celebramos no dia 20 de novembro o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, feriado em mais de mil cidades brasileiras e uma referência à morte de Zumbi de Palmares, negro pernambucano que nasceu livre e foi escravizado aos seis anos de idade. Foi líder do Quilombo dos Palmares e morto em 1695 na região de Alagoas.
Sua vida foi marcada pela luta contra a escravidão que terminou oficialmente 190 anos após sua morte — no dia 13 de maio de 1888 com a Lei Áurea.
O Dia da Consciência Negra marca a importância das discussões e ações para combater o racismo e a desigualdade social no país. Fala também sobre avanços na luta do povo negro e sobre a celebração da cultura afro-brasileira. Acompanhe a leitura e confira mais sobre o assunto!
Qual a importância das discussões sobre o racismo no Brasil?
A memória em relação à Consciência Negra mostra sua relevância quando vemos os dados da desigualdade racial que ainda existe no Brasil. Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou uma pesquisa chamada “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” que mostra que pretos e pardos, que são 56% da população brasileira, têm os piores indicadores de renda, moradia, escolaridade, serviços, etc.
O Atlas da Violência 2020 mostra que a taxa de homicídios entre negros cresceu 11,5% de 2008 a 2018, enquanto a de não negros caiu 12%. Ao todo, os negros somam 75,9% dos assassinados entre este período. Ou seja: para cada indivíduo não negro morto, 2,7 negros são assassinados.
Esses números ficam ainda mais alarmantes quando olhamos pela faixa etária e gênero: em 2018, 68% das mulheres mortas eram negras. Os homens negros jovens representam mais da metade do número de jovens mortos.
Em 2018, o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil” mostrou que a taxa de analfabetismo entre negros era de 9,1%, cinco pontos percentuais superior à da população branca. A taxa de negros fora das escolas chega a 19%.
Efeitos da COVID-19 na população negra
A pandemia atingiu principalmente as atividades com maior participação da população negra e parda: comércio, trabalho doméstico, serviços e construção civil. O número de desemprego entre os jovens de 18 e 24 anos aumentou durante a pandemia, chegando a média nacional de 27,1%, onde a maioria são mulheres negras e pardas.
Outro efeito grave da doença, é a letalidade em pessoas negras. Por vezes sem acesso às medidas de controle sanitário da Organização Mundial da Saúde (OMS), como lavar as mãos com água potável e se manter distante das outras pessoas, a população negra é maioria entre os óbitos por consequências do novo coronavírus.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) são negros, e esses também são maioria dos pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas no país — todos considerados agravantes para o desenvolvimento de quadros mais graves da Covid-19.
Os altos índices de mortalidade, desemprego e desigualdade racial mostram o impacto da falta de políticas e políticos comprometidos com essa causa no Brasil. Enquanto o Brasil não se assumir racista, o negro continuará sendo oprimido.
A urgência da luta antirracista
A professora Márcia Lima acredita que houve um processo de redução das desigualdades raciais no Brasil nos últimos anos, quando o governo desenvolveu políticas públicas de inclusão e redução da pobreza. No entanto, a disparidade ainda permanece alta.
Ela aborda também outros aspectos da desigualdade que não envolvem diretamente bens e recursos, mas que atingem diariamente a população negra como a brutalidade policial com jovens negros e estereótipos raciais, que atinge a autoestima, cultura e saúde mental.
Nos últimos meses, diversos movimentos antirracistas foram lançados devido a mortes de negros por policiais em diferentes países do mundo e regiões brasileiras. O movimento negro brasileiro também vem se mobilizando para que o tema seja mais debatido. A campanha “Enquanto houver racismo não haverá democracia” levanta vozes e assinaturas neste debate.
Candidaturas negras nas Eleições 2020
Parte do processo de redução das desigualdades raciais é o sucesso de candidaturas negras nas Eleições 2020.
Em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontou que havia uma predominância na candidatura de homens brancos no país. Foram 52,4% candidaturas de pessoas brancas, contra 47,6% de candidaturas de pessoas negras e outras etnias.
Quando falamos de candidatos eleitos a discrepância aumenta: 84,9% são homens e 75% do total são declarados brancos.
O aumento da representatividade de grupos periféricos é fundamental para a construção da democracia brasileira. É necessário dar voz e lugar de fala para aqueles que mais precisam e utilizam das políticas públicas sociais, ouvir novas opiniões e construir uma democracia mais representativa, igualitária e justa.
Por isso, valida-se a importância do Dia da Consciência Negra, reforçando a essencialidade de ações para inserção do negro na sociedade e meios para lutar contra práticas racistas, o que inclui acesso à direitos básicos e maior expectativa de vida.
O que achou deste conteúdo? Saiba mais sobre o assunto lendo nosso artigo sobre a importância da luta antirracista para o enfrentamento das desigualdades.