Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O Dia Internacional da Juventude é celebrado anualmente no dia 12 de agosto e tem como principal objetivo focar na educação e conscientização dos jovens sobre a responsabilidade que têm como representantes do futuro do planeta.
A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1999 após a Conferência Mundial dos Ministros Responsáveis pelos Jovens, realizada um ano antes em Lisboa, Portugal.
A partir daí, todos os anos a ONU escolhe um tema para ser discutido com os jovens — saúde, educação, emprego, estabilidade social —, além dos desafios que a juventude tem. A ONU considera que os jovens precisam estar na vanguarda das inovações e mudanças globais para que o mundo tenha sucesso no desenvolvimento sustentável das próximas gerações.
O Dia Internacional da Juventude ganhou ainda mais relevância em 2010, período escolhido pelas Nações Unidas como o Ano Internacional da Juventude, sob o tema “Diálogo e Compreensão Mútua”.
Jovens na construção de uma sociedade melhor
O mundo vem testemunhando a força crescente dos jovens na construção de uma sociedade melhor. Eles estão nas ruas, nas comunidades, no debate público, defendendo seus direitos e da sociedade, mobilizando as pessoas e chamando governos do mundo à responsabilidade em respeitar, proteger e efetivar os direitos humanos.
Os jovens sempre desempenharam papel importante nos movimentos sociais, assumindo postos de liderança em protestos mundo afora, organizando manifestações e ocupando o espaço público com demandas sociais, políticas, econômicas e culturais. Nas ruas, nas comunidades, nas redes sociais e internet em geral!
Mas justamente por estarem na linha de frente do ativismo, da cobrança de líderes locais e globais por um mundo mais justo e solidário e por serem a voz do inconformismo na sociedade, os jovens também estão entre os que mais sofrem com a violência.
Os jovens e, principalmente, os jovens negros estão entre os grupos de maior vulnerabilidade social, no Brasil e no mundo. E essa vulnerabilidade é facilmente constatada pelos altos índices de mortalidade — no Brasil, a morte violenta atinge principalmente jovens negros entre 15 e 18 anos.
Alta taxa de mortalidade entre jovens brasileiros
Segundo dados da Unicef, morrem 16 jovens por dia no Brasil vítimas de homicídio. Já o DataSus revela que, enquanto a taxa de mortalidade por homicídios de adolescentes está em torno de 35 por 100 mil habitantes, a da população em geral encontra-se em 27 por 100 mil.
Há quem diga, equivocamente, que os altos índices de morte entre jovens se deve ao envolvimento desses em crimes. Tal afirmação não poderia estar mais longe da verdade.
Segundo dados do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (Ilanud), o percentual de jovens com idade inferior a 18 anos que comete atos infracionais no Brasil é de menos de 1% da população brasileira nessa faixa etária. No universo de crimes praticados, os delitos cometidos por adolescentes não chegam a 10%.
Ainda assim, mais da metade das mortes por homicídios no Brasil em 2017 (54,54% do total de 65.602), por exemplo, foram de jovens entre 15 e 29 anos, segundo dados do Atlas da Violência. Conforme os pesquisadores, a alta letalidade de jovens no Brasil gera implicações no desenvolvimento econômico e social do país.
No mundo, a situação dos jovens não é mais confortável. Dados do Fundo de População das Nações Unidas (ONU) mostram que cerca de um terço dos jovens entre 10 e 24 anos vive em situação de vulnerabilidade social. Segundo a agência, mais de 500 milhões de jovens vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de US$ 2 por dia. E a situação deles vem sendo negligenciada pelos governantes, gerando impactos negativos, sociais e econômicos, nos respectivos países em que vivem.
Avanços econômicos e sociais com investimentos nos jovens
Segundo a ONU, o mundo pode alcançar avanços econômicos e sociais expressivos se investir mais no potencial produtivo dos jovens. Eles precisam ser vistos como “potenciais líderes e arquitetos de uma transformação histórica no bem-estar humano”.
Caso não seja dada a atenção necessária a esse importante segmento da sociedade, a ONU estima que o mundo terá uma força de trabalho pouco qualificada num futuro próximo, o que manterá as economias presas em atividades de baixo valor agregado e com baixas taxas de crescimento. É tudo que o mundo não precisa neste momento…
Estamos vivendo uma das maiores crises sanitárias e econômicas da história. A pandemia de coronavírus afetou a vida de todas e todos pelo mundo, e no Brasil não foi diferente. Ainda que os jovens não estejam entre os principais grupos de risco da doença em si, são eles os principais impactados pelos efeitos que ela causa na sociedade.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os jovens são as principais vítimas da crise econômica. Relatório divulgado pela OIT em maio de 2020 revela que um em cada seis jovens está desempregado no mundo e isso pode gerar danos prolongados, um legado negativo por décadas!
Os jovens são desproporcionalmente afetados pela crise provocada pela pandemia devido a perturbações no mercado de trabalho, bem como na educação e na formação profissional deles. As mulheres jovens são afetadas com mais força e rapidez.
Pandemia impõe choque triplo nos jovens
A pandemia de covid-19 está impondo um choque triplo nos jovens, afirma o relatório da OIT. Ela está reduzindo o número de vagas de emprego, interrompendo a educação e treinamento dos jovens e empurrando milhões deles para trabalhos precários e mal remunerados, deixando-os ainda mais vulneráveis.
No Brasil, dados do IBGE mostram que 12 milhões de pessoas entraram na fila de quem procura emprego nos três primeiros meses de 2020, levando a taxa de desemprego no país para 12,2%. Entre jovens de 18 a 24 anos, essa taxa é mais do que o dobro: 27,1% estão desempregados.
Com tantos desafios, os jovens precisam ter apoio de políticas públicas para enfrentar as questões que mais os afetam — violência, desemprego, educação, treinamento.
Especialistas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmam que o momento é crucial para investir em capital humano, sobretudo o mais jovens, porque eles podem estar neste momento tentados a deixar a escola e entrar no mercado de trabalho — qualquer que seja o trabalho em questão — para ajudar suas famílias.
Além disso, é preciso também dar apoio aos jovens que acabaram de entrar no mercado de trabalho, oferecendo meios para que possam se qualificar, combinando trabalho com educação. Só assim os jovens poderão progredir em suas vidas e contribuírem para o desenvolvimento dos países.
Políticas públicas para a juventude
Entretanto, não basta criar leis, políticas públicas e projetos para atender os jovens. É preciso estabelecer mecanismos que assegurem sua implementação localmente.
No Brasil, isso é fundamental e urgente, devido aos altos índices de jovens vítimas de homicídios e em situação de vulnerabilidade social. O governo federal deveria ser o promotor dessas iniciativas, em parceria com os estados e municípios, para acabar com a cultura da violência contra os jovens, principalmente a juventude negra.
Parcerias com organizações da sociedade civil, especialmente os movimentos ligados à juventude e questões raciais, também são importantes, porque essas entidades estão em constante contato com a base dos movimentos de juventude em todo o país, principalmente os milhões de jovens que vivem em situação de vulnerabilidade nas periferias dos grandes centros urbanos.
Para complementar sua leitura sobre o assunto, acesse também nosso artigo sobre o direito dos jovens à profissionalização, trabalho e renda.