Foto: Tuca Vieira/Oxfam Brasil
Em 2019, mais de 170 mil pessoas entraram para a pobreza no país, o que significa viver com menos de 2 dólares (cerca de R$ 10,00) por dia. O número de pessoas em extrema pobreza no país já soma 13,5 milhões.
Em 2020, com a pandemia do novo coronavírus, esses números aumentaram significativamente e a tendência é terminar o ano com uma crise social e de segurança alimentar como poucas vezes o país experimentou. Especialistas estimam que 9,5% da população brasileira entrará em situação de extrema pobreza até o final do ano. São mais de 20 milhões de pessoas!
Nos últimos anos, a disparidade entre classes sociais também aumentou no Brasil, atingindo patamares de 1989. Houve redução da renda e aumento do desemprego, atingindo principalmente os jovens entre 20 e 24 anos. Some-se a isso o aumento das taxas de homicídio, a violência de gênero e o feminicídio que são agravadas pelos indicadores sociais. Essa situação tem impacto negativo principalmente entre as mulheres negras.
A desigualdade social que se intensifica a cada dia é oriunda de diversas disparidades em nosso país como renda, trabalho, formação, gênero e raça — mas ela atinge principalmente as minorias, como mulheres e a população negra.
Desigualdade de raça e gênero
O grupo historicamente mais impactado pela pobreza são as mulheres negras, que desempenham em sua maioria serviços não qualificados que poderão ser impactados com a automação e avanço tecnológico. Em 2018, o número de mulheres sem renda própria na América Latina e Caribe era de 27,5%. Ou seja, 1/3 das mulheres dependem de outros para sobreviver, o que explica o fato delas serem maioria entre a população em situação de pobreza.
A dupla jornada de trabalho, desempenhada pelas mulheres desde a infância nos trabalhos domésticos e não remunerados, ainda não recebe políticas que promovam uma distribuição mais justa das cargas de trabalho.
Em pesquisa divulgada pelo Semesp, as mulheres com ensino superior completo correspondem a 55,1% do mercado de trabalho. No entanto, o rendimento médio mensal por gênero é bem desigual: enquanto as mulheres recebem em média R$ 3.287, os homens recebem R$ 4.640.
Os impactos da desigualdade de gênero na economia foram evidenciados em um relatório divulgado no Fórum Econômico Mundial de 2019. Nele, o Brasil ocupava o 95º lugar do ranking. Segundo o relatório, a ascensão profissional feminina possibilita o maior investimento no bem-estar das famílias, o que gera melhoria na educação e saúde e, ainda, impacta na diminuição da pobreza.
Parcerias, campanhas públicas e engajamento
Por esses motivos, a Oxfam tem atuado diretamente sobre o tema da desigualdade de raça e gênero, em parceria com organizações da sociedade civil, fortalecendo coletivos e movimentos jovens, desenvolvendo estratégias de engajamento e campanhas públicas.
Uma das iniciativas nesse sentido é o Hub das Pretas, que contou com ciberativistas negras de todo o Brasil para lutar contra a violência racial e sexista, fazendo denúncias e divulgando informações.
Outra iniciativa da Oxfam no combate às desigualdades de raça e gênero foi a série de vídeos Sonho de Preta Conta, com depoimentos de mulheres negras compartilhando suas histórias e sonhos.
Exclusão social e desigualdade racial: uma questão extrema no Brasil
Em 2019, o IBGE lançou uma pesquisa chamada “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” que revelou alguns dados interessantes. Mostrou, por exemplo, que pretos e pardos (6% da população brasileira) têm os piores indicadores de renda, moradia, escolaridade e acesso a serviços do país.
Enquanto brancos recebem em média R$ 2.796, negros recebem R$ 1.608 em um padrão que se repete ano após ano. A diferença salarial é maior por cor ou raça do que por gênero, e isso se deve a fatores sociais históricos como oportunidade educacional, oportunidade de trabalho e racismo institucional.
Os dados também mostram que para cada quatro pessoas no grupo dos 10% com menor rendimento do país, três são pretas ou pardas e uma é branca. Entre os 10% mais ricos, a proporção é invertida (três são brancas, uma é preta ou parda).
A professora Márcia Lima, em artigo sobre as desigualdades raciais no Brasil, produzido para a Oxfam, enfatiza que houve um processo de redução das desigualdades raciais no país nos últimos anos, quando o governo federal desenvolveu políticas públicas de inclusão e redução da pobreza. Contudo, a disparidade ainda permanece alta. E está aumentando novamente.
Trabalho da Oxfam sobre desigualdade chega às periferias
Márcia Lima aborda também outros aspectos da desigualdade que não envolvem diretamente bens e recursos, mas que atingem diariamente a população negra. São aspectos como a brutalidade policial com jovens negros e estereótipos raciais, que atinge a autoestima, cultura e saúde mental.
A Oxfam trabalha sistematicamente com jovens de periferia e bairros nobres para abordar sobre as desigualdades das suas regiões e como ajudar, desenvolvendo campanhas de conscientização, fortalecendo grupos periféricos e fortalecendo lideranças regionais.
Veja mais sobre esse projeto: Bairros, Olhares Desiguais e Juventudes.
As consequências negativas das desigualdades
A desigualdade social é vivenciada em todos os países do mundo. Quase metade da humanidade vive com menos de US$ 5,5 dólares por dia (cerca de R$ 30), enquanto os 2.200 bilionários do mundo têm uma riqueza que, somada, equivale a de 4,6 bilhões de pessoas.
O primeiro impacto da desigualdade é na fome. Milhares de pessoas estão em situação de extrema pobreza e reféns dos altos valores dos alimentos nos mercados. Para as famílias mais pobres, o gasto com alimentos pode chegar a consumir mais da metade da renda.
Somado a isso, diversos países ainda enfrentam problemas como seca, conflitos, mudanças climáticas e migração, gerando fome em milhares de pessoas.
Sem alimentos e água potável, crianças e jovens não conseguem estudar e reter conhecimento, consequentemente, não há melhoria das condições de vida. Estamos andando em círculos e precisamos tomar iniciativas rápidas para ajudar estas pessoas.
A necessária reforma tributária para combater as desigualdades
Uma das reformas mais relevantes no Brasil, que impactaria diretamente na economia e na redução das desigualdades, é a reforma tributária. Ela poderia incidir mais sobre aqueles que têm maior renda e ajudar a financiar políticas públicas de assistência, combate às desigualdades e reestruturação econômica do país.
Atualmente, o sistema tributário brasileiro pesa mais sobre as pessoas mais pobres, que pagam proporcionalmente mais impostos do que os super ricos.
Uma das medidas desejadas em uma reforma tributária justa e solidária seria a taxação das grandes fortunas, algo em torno de 0,5% sobre patrimônios líquidos acima de R$ 22,8 milhões. Isso geraria uma arrecadação de até R$ 80 bilhões por ano!
Em março de 2020, a Oxfam Brasil e a Fenafisco realizaram um seminário com especialistas para discutir a importância que a reforma tributária tem para reduzir as desigualdades. Essa tem sido uma das pautas mais importantes da Oxfam Brasil, porque um sistema tributário mais justo pode corrigir imensas disparidades econômicas e sociais no país.
O imposto que pagamos tem um grande valor para a sociedade! Mas para que isso seja verdadeiro, é importante que o sistema tributário cobre uma parcela justa de cada cidadão. Você sabe qual o valor do seu imposto? Clique aqui e descubra!
Ajuda humanitária global
Neste link você consegue encontrar algumas das iniciativas de ajuda humanitária da Oxfam no Brasil e no mundo. Trabalhamos para reduzir as desigualdades, acabar com a pobreza extrema e melhorar as condições de vida de milhões de pessoas.
Você pode ajudar nisso! Contribua! Faça uma doação! Muitos só podem contar com a nossa solidariedade.