Foto: Mariana Leal/MEC
Foi preciso eclodir uma mobilização internacional para que a pauta do racismo viesse à tona no Brasil. Ainda que, historicamente, os movimentos negros venham denunciando o racismo, é impossível não ver a pauta hoje na mídia em razão dos cada vez mais frequentes casos de violência policial, dirigida especialmente à juventude negra. E a luta contra o racismo é pauta chave para enfrentar as desigualdades no país.
O assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, homem negro morto por um policial branco, fez crescer uma onda de protestos em todo mundo clamando: Black Lives Matter! (vidas negras importam!). No Brasil, não foi diferente. Mesmo com a pandemia, muitos foram às ruas pelas vidas de Robson, João Pedro, Ágatha Felix, Vitor Henrique e tantas outras vidas negras tiradas em ações da polícia.
Segundo dados do Mapa da Violência, um jovem negro é morto a cada 23 minutos no Brasil. A juventude negra está nas ruas, em protestos e manifestações, deixando claro que a luta contra o racismo é pauta fundamental contra as desigualdades e que com racismo, não há democracia.
Breve Histórico dos Movimentos Negros no Brasil
Primeiro, é preciso esclarecer que “movimento negro” não é um grupo hegemônico e único. O que existem são diferentes movimentos de pessoas negras que historicamente tem lutado por sua sobrevivência e garantia de direitos.
Assim, podemos dizemos que os primeiros movimentos negros no Brasil datam do período da escravidão. Foram as rebeliões de escravos, a formação de quilombos e as irmandades que representaram experiências importantes da organização e solidariedade entre pessoas negras.
Contudo, pensando em um conceito mais formal de organização, foi apenas em 1931 que nasceu a Frente Negra Brasileira (FNB). Já naquela época, o FNB denunciava a segregação racial, a falsa abolição a pouca integração dos negros na sociedade.
Abdias Nascimento fundou em 1944 o Teatro Experimental do Negro (TEN), que publicava o jornal Quilombo e oferecia curso de alfabetização. Foi Abdias que organizou o I Congresso do Negro Brasileiro e que, por meio do TEN, buscava adesão dos partidos políticos à causa racial.
Apenas em 1951 foi aprovada a primeira lei antidiscriminatória no Brasil, a Lei Afonso Arinos, criada após um escândalo de racismo envolvendo a bailarina negra norte-americana Katherine Dunham, impedida de se hospedar num hotel em São Paulo.
O Movimento Negro Unificado (MNU) foi criado em 1978, inspirando na luta pelos direitos civis dos negros nos EUA, que reivindicava uma democracia racial e a necessidade de se fazer a luta antirracista no país.
O racismo é um problema dos brancos
O racismo não é um problema da população negra, uma vez que ele parte de pessoas brancas, que se beneficiam dele. Como o professor Silvio Almeida explica em seu livro O que é racismo estrutural: “O racismo não é um ato ou um conjunto de atos e tampouco se resume a um fenômeno restrito às práticas institucionais; é, sobretudo, um processo histórico e político em que as condições de subalternidade ou de privilégio de sujeitos racializados é estruturalmente reproduzida”.
Assim, o racismo é um problema que afeta o conjunto da sociedade, porque não é possível ter uma sociedade justa e igualitária, sem que se enfrente o racismo. Ou, utilizando o lema da campanha lançada pela Coalização Negra por Direitos, “Enquanto houver racismo, não haverá democracia”.
Por fim, o racismo acentua as desigualdades em nossa sociedade e gera consequências violentas que atingem sobretudo a juventude e as mulheres negras. Por isso a luta contra o racismo é tão importante para a democracia brasileira.
A participação política como ferramenta
Mais da metade da população brasileira é negra, segundo dados do IBGE. Contudo, pessoas negras são apenas 24,4% dos deputados federais e 28,9% dos deputados estaduais eleitos em 2018.
Ainda que a cada eleição as candidaturas negras aumente, isso não reflete em eleitos. Isso é resultado de vários fatores, entre eles, a falta de apoio dos partidos à essas candidaturas e, em uma questão mais estrutural, a falta de oportunidades.
Sem o redimensionamento desses espaços políticos e de poder não iremos avançar numa democracia de fato representativa e participativa. A superação do racismo exige o combate à sua naturalização cotidiana.
É isso que os movimentos negros seguem fazendo, lutando não apenas por seus direitos, mas por uma sociedade verdadeiramente democrática.