Entre os dias 15 e 16 de agosto, em Brasília, aconteceu uma das maiores mobilizações de mulheres rurais da América Latina, a Marcha das Margaridas, que reúne mulheres do campo e da floresta e é promovida pela CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares) em parceria com outras federações e sindicatos.
Em sua 7ª edição este ano, a estimativa é de mais de 50 mil participantes.
Quem foi Margarida Alves
O nome é uma homenagem à Margarida Alves, uma trabalhadora rural e sindicalista, que, durante a sua vida foi defensora dos direitos humanos e trabalhistas no campo. Paraibana, durante um longo tempo Margarida foi uma combativa presidenta do sindicato de trabalhadores e trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande.
Sua força e luta se davam em diferentes frentes em busca da redução das desigualdades no campo e por garantia e aumento de direitos para aqueles e aquelas que nele trabalham. Lutou pela contratação com carteira assinada, direito das trabalhadoras e trabalhadores cultivarem suas terras, pelo fim do trabalho infantil na cana de açúcar entre outros direitos básicos.
Assassinada por capangas a mando de latifundiários locais em 1983, Margarida Alves se tornou um símbolo de referência de luta por direito e pelo fim das desigualdades no campo até os dias de hoje.
Desigualdades no campo
Mesmo com grandes avanços desde o início do período de redemocratização, as desigualdades no campo ainda são grandes e profundas no Brasil.
Os trabalhadores e trabalhadoras rurais foram, junto das empregadas domésticas, os últimos a terem seus direitos trabalhistas reconhecidos na CLT, além de serem as maiores vítimas de trabalho escravo e infantil.
Além disso, convivem com a ameaça da violência no campo, seja por conflitos fundiários ou por recursos naturais como a água.
Segundo o último Caderno de Conflitos no Campo de 2022, lançado pela Comissão Pastoral da Terra, o número de conflitos relacionado a terras nos últimos 4 anos foi de 5943. Já o de conflitos por água chegou a 1406 ocorrências.
Já o número de trabalhadores e trabalhadoras resgatados nos últimos 4 anos foi de 5715 pessoas, segundo o Radar SIT, ferramenta de divulgação de informações e estatísticas da Inspeção do Ministério do Trabalho e Emprego.
Desigualdade de gênero
Entretanto, as desigualdades no meio rural se apresentam também pela questão de gênero. Existe uma desproporção na presença de trabalhadoras rurais, como aponta o Caderno Diálogos das Assalariadas Rurais da CONTAR, com dados do Censo Agropecuário de 2017.
Naquele período, elas representavam 17% dos trabalhadores no campo e esse número diminuiu ao longo dos anos. A PNAD Contínua do 3º trimestre de 2020 demonstrou que mulheres representavam apenas 11%.
Elas também recebem menos, mesmo tendo mais escolaridade. Também segundo a PNAD, enquanto os assalariados rurais recebiam em média R$ 1.214,00, as mulheres recebiam em média R$ 1.159,00.
A ocupação das mulheres em cargos mais altos nas fazendas também é menor. Como aponta o relatório Mancha de Café da Oxfam Brasil, mulheres representam apenas 1% das tratoristas nas fazendas de café em Minas Gerais. Já nos cargos de supervisão, elas são apenas 5%.