A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou a 38ª edição da publicação Conflitos no Campo Brasil, com os dados da violência e resistência ligadas a questões agrárias no país ao longo de 2023. O relatório tem os maiores índices de ocorrências em toda a história da publicação.
Com os conflitos no campo chegando a 2.203 casos notificados em 2023, o número se torna o maior desde o início dos levantamentos, em 1985. Em 2022 foram notificados 2.050 casos, e 2.130 no ano de 2020.
O relatório organiza os conflitos ocorridos no campo em categorias, sendo elas os conflitos pela terra, o trabalho escravo rural, os conflitos pela água, violência contra pessoas e ações de resistência. Do total de 2.203 casos, 1.724 foram motivados por questões ligadas à terra, sendo elas de invasão, expulsão, ameaças e despejo. No que acomete aos números referentes ao trabalho escravo, foram registrados 251 casos de resgate de trabalhadores e trabalhadoras rurais em situações análogas à de escravidão, com 2.663 pessoas resgatadas dessa condição, um dos maiores números da última década. Os conflitos pela água registraram estabilidade se comparado ao ano anterior, mas os índices ainda são altos se comparados à última década, sejam por descumprimento de medidas legais pelo poder público ou empresas privadas, poluição, contaminação por agrotóxico ou impedimento no acesso.
Os conflitos no campo envolveram 950.847 pessoas, disputando 59.442.784 hectares em todo o Brasil. Os casos de violência contra pessoas atingiram o número de 1.467, incluindo 31 assassinatos. Os principais causadores dessas violações são os fazendeiros, empresários, grileiros, a falta de garantia de direitos pelo Governo Federal e as repressões vindas dos Governos Estaduais.
Gustavo Ferroni, Coordenador de Justiça Rural e Desenvolvimento diz que: não é possível separar a violência no campo do tipo de modelo de desenvolvimento que vigora no país. Se queremos um país que exporte commodities agrícolas de baixo valor agregado, isso significa concentração de terra, degradação dos recursos naturais, exploração dos trabalhadores e o uma senha por cada vez mais terra, o que gerará cada vez mais conflitos. Diminuir e acabar com a violência no campo demanda mudar o nosso modelo de desenvolvimento, precisamos de outra agricultura, uma que seja baseada nas pessoas e no respeito ao meio ambiente.
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Relatório Conflitos no Campo Brasil 2023 – Elaborado anualmente há quase quatro décadas pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), o Conflitos no Campo Brasil é uma fonte de pesquisa para universidades, veículos de mídia, agências governamentais e não-governamentais. A publicação é construída principalmente a partir do trabalho de agentes pastorais da CPT, nas equipes regionais que atuam em comunidades rurais por todo o país, além da apuração de denúncias, documentos e notícias, feita pela equipe de documentalistas do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc) ao longo do ano.