Moçambique e Brasil são dois países que têm muitos desafios em comum, especialmente em relação às desigualdades sociais e econômicas, e podem trocar muitas experiências em busca de soluções comuns. Em visita ao Brasil este mês, Adelson Rafael, representante da Oxfam em Moçambique, explicou à equipe do escritório da Oxfam Brasil que seu país vê diversos setores econômicos se desenvolverem sem que as desigualdades sejam reduzidas e que são muitas as violações aos direitos de quem trabalha no campo.
Moçambique tem duas faces, explicou Adelson. Economicamente, o país africano vem obtendo bons resultados, mas estes não resultam em redução da pobreza e desenvolvimento humano. E isso é agravado pela ocorrência regular de desastres climáticos.
Todos os anos, mais de 500 mil moçambicanos são afetados por inundações, ciclones e secas. Moçambique foi recentemente identificado como o país com o segundo maior impacto esperado das alterações climáticas no mundo. Espera-se que as epidemias de cólera aumentem. A grande maioria das pessoas depende da agricultura de pequena escala. As áreas utilizadas para a produção agrícola estão se expandindo e a produção agrícola está se diversificando, mas os rendimentos não estão aumentando; Moçambique ainda é um importador de alimentos.
Riquezas naturais e pobreza
As reservas inexploradas de petróleo e gás de Moçambique estão atraindo o interesse de investidores estrangeiros, e a mineração de titânio é uma fonte crescente de receita. No entanto, a maior parte da população vive em áreas rurais e a infraestrutura do país ainda sofre com a negligência colonial, guerra e sub-investimento. Assim, enquanto parte da população faz bons negócios, principalmente no comércio e nas indústrias extrativas, mais de 10 milhões de moçambicanos vivem em absoluta pobreza e a segurança alimentar está ameaçada. Isso afeta desproporcionalmente as mulheres e os grupos vulneráveis.
Oxfam em Moçambique
A Oxfam está ativa em Moçambique desde 1978. O trabalho evoluiu da ajuda humanitária direta durante a guerra nos anos 1980 para a promoção do desenvolvimento sustentável e apoio às organizações da sociedade civil.
A Oxfam atua em Moçambique com o objetivo de melhorar os meios de subsistência da população, prevenir e reduzir o impacto de desastres naturais e capacitar as pessoas politicamente para melhor expressarem suas necessidades e defender seus interesses. Além disso, tem desenvolvido projetos de apoio ao desenvolvimento de relações mais igualitárias entre mulheres e homens no país.
Impacto das multinacionais brasileiras em Moçambique
A Oxfam Brasil atua com organizações parceiras da Oxfam em Moçambique investigando e denunciando violações de direitos conectadas com atuação de grandes empresas de mineração e construção civil brasileiras em Moçambique (Vale, Odebrecht, Andrade Gutierrez etc). Também há projetos de cooperação com movimentos moçambicanos em agroecologia. O Programa ProSavana, por exemplo, teve um plano diretor aprovado em Moçambique que atendia as demandas da sociedade civil local em termos de participação. Esse trabalho esteve ativo até 2018, quando foi encerrado – em parte devido à falta de recursos e também devido à mudança nas relações Brasil-Moçambique nos últimos anos.