A Rádio Juv é um podcast criado para expor e discutir as realidades e possibilidades de pessoas jovens e periféricas que, ainda hoje, têm suas trajetórias atravessadas e dificultadas pelo racismo, machismo e LGBTfobia que fazem parte das estruturas da sociedade brasileira.
Parte de uma tendência nacional que foi ainda mais impulsionada pela pandemia, a Rádio Juv é um catalizador de vozes potentes e temas necessários. Vai perder? Acompanhe a leitura e saiba mais!
O mercado de podcasts do Brasil
A popularidade dos podcasts no Brasil é grande e sabida. Em 2019, de acordo com o relatório da Voxnest, agência de consultoria para podcasters, a produção de conteúdos nesse formato cresceu 85%, o que colocou o Brasil como o segundo maior mercado de podcasts do mundo, atrás apenas da Argentina.
Outro dado que vem para provar a aceitação dos podcasts no Brasil foi exposto em uma pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência e pela Associação Brasileira de Podcasters (Abpod), também em 2019: 40% dos usuários de internet no Brasil já tinham ouvido pelo menos 1 episódio na vida.
Muito mais do que uma forma de entretenimento, os podcats são alternativas para buscar informação e construção de uma rede de apoio, no caso dos jovens periféricos que mergulham de cabeça nesse modelo. O fato de grandes veículos de imprensa, como Estadão e Folha de S. Paulo, terem seus programas oficiais confere ainda mais relevância para o formato.
Em entrevista concedida ao Correio Braziliense, Javier Piñol, do Spotify Studios América Latina, área da empresa de streaming responsável pela produção de conteúdos próprios em diversos países da América Latina, ponderou sobre as particularidades do mercado brasileiro:
“O Brasil é muito grande. Esse tamanho, essa diversidade, essa escalabilidade definem o país. Aqui as coisas crescem em escala muito rápido. Isso é maravilhoso, nos permite testar mais ideias. Este é um país perfeito para testar o que vem por aí. Admiro a capacidade de adaptação do brasileiro, o ;jeitinho;. O brasileiro entende muito mais rápido as coisas que outros. Acho que esse é o segredo do crescimento tão incrível do podcast no Brasil.”
O fato do Brasil ser um país muito grande, como afirmou o executivo, faz com que o consumo dos conteúdos não ocorra de maneira proporcional em todas as regiões. Novamente de acordo com o relatório da Voxnest: São Paulo teve 40% das reproduções de podcasts do país, seguido por Rio de Janeiro com 18%. Enquanto isso, Fortaleza e Recife empataram com 5% dos ouvintes cada.
O que os Podcasts representam para as juventudes negras e periféricas?
Para as juventudes periféricas os podcasts representam diversas possibilidades: um espaço para o registro e divulgação de posicionamentos, um veículo para a propagação de diferentes informações, um ambiente seguro para a expressão artística, além de uma nova oportunidade de geração de renda.
Jéssica Pires, jornalista da Redes e comunicadora do Coletivo de Audiovisual AMaréVê, do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, afirma que “O podcast hoje é um formato que está crescendo muito, por conta dessa facilidade de produção. A gente consegue gravar pelo celular, editar em programas gratuitos, se comunicar com as fontes pelo próprio WhatsApp e não nos exige uma dinâmica que envolva muitos processos ou pessoas”
Em 2020, após os primeiros meses da pandemia de covid-19, o Deezer, aplicativo de streaming concorrente do Spotify, fez um levantamento que revelou que programas de áudio sob demanda cresceram 67% no país durante o período de isolamento social. Apesar de todo o potencial e facilidade de produção, Jéssica afirma:
“Acho que o podcast tem tudo para ser o novo rádio dos jovens de periferia, considerando as camadas de acesso desses jovens também. Minimamente, a gente precisa de um recurso que ainda não é democrático para o acesso do podcast, que é a internet nas favelas” .
Ainda olhando para o Complexo da Maré, de acordo com o Maré de Notícias, portal de jornalismo independente que cobre toda a região, existem pelo menos 10 programas criados localmente, até novembro de 2020, e divulgados em distribuidores de streaming, grupos e listas no WhatsApp: Maré em Tempos de Coronavírus; Nerd de Favela; Renegadus; Data_lábia; Cabe Mais 1; Unifacast; Favela Pod; Coronavírus na Maré e cadê o poder público?; Itan e Crônicas de um favelado.
Nas periferias de São Paulo, a realidade de produção durante o isolamento não foi diferente, sendo possível mencionar diversos nomes sem grande esforço: Manda Notícias; Em Quarentena; Quarentena Periférica; Papo Reto; Quebra das ideias; Papo de Quebrada e Lugar de Quarentena.
A Rádio Juv faz parte desse movimento!
A Rádio Juv faz parte do projeto Juventudes nas Cidades, inciativa adminsitrada pela Oxfam Brasil, em parceria com outras sete organizações da sociedade civil.
A intenção é contribuir para o enfrentamento das desigualdades no espaço urbano, promover os direitos das juventudes e fortalecer a capacidade de jovens e coletivos de periferias urbanas e favelas de exercer seu “Direito à Cidade” e identificar alternativas de inclusão econômica.
Trata-se de um podcast, que pode ser ouvido no site da Oxfam Brasil, YouTube e Spotfy, criado para afirmar os direitos das juventudes e apontar formas de enfrentar às desigualdades ainda tão presentes para os jovens negros, periféricos e LGBTQIA+ nos espaços urbanos.
Com 5 episódios no ar, Tauá Pires e Bárbara Barbosa, ao lado de pessoas convidadas que representam cada um dos temas escolhidos: “Quem tá no corre da literatira”, “Financiamento de iniciativas das juventudes”, “Empreendedorismo para quem?”, “Produtividade e esgotamento: possibilidades de afeto e fortalecimento de laços no território”, além de uma entrevista com André Sobrinho, da Agenda Jovem Fiocruz, no episódio de lançamento.
Quem é uma pessoa jovem periférica que busca formas de se firmar na sociedade e os caminhos para concretizar esse objetivo, com certeza vai gostar dos conteúdos. Quem não faz parte desse universo, porém, quer conhecer mais sobre o quão plural e cheia de talentos é a juventude brasileira, também não se arrependerá de conferir a Rádio Juv! Acesse, ouça e nos ajude a propagar as vozes desse Brasil que apesar de ignorado por muitos, é capaz de nos encantar e estimular de um jeito transformador.
Acesse, ouça e nos ajude a propagar as vozes desse Brasil que apesar de ignorado por muitos, é capaz de nos encantar e estimular de um jeito transformador.