Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Este ano de 2020, como um grito de alerta à população brasileira, um homem negro de 40 anos foi brutalmente assassinado em uma das lojas da rede de supermercados Carrefour em Porto Alegre, às vésperas do Dia da Consciência Negra (20 de novembro). O crime, cometido por dois seguranças da loja, traz à tona questões sobre o racismo estrutural de nossa sociedade e a responsabilidade social corporativa.
João Alberto Silva não foi a primeira e, infelizmente, não será a última vítima do racismo no país. O Atlas da Violência 2020 revelou a enorme diferença entre as taxas de homicídio de pessoas negras e não negras no país. Segundo o estudo, na prática, para cada indivíduo não negro morto em 2018, 2,7 negros foram mortos. A taxa de homicídios de negros no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, o que representa aumento de 11,5% no período.
Outro estudo, realizado em 2017, já apontava que o percentual de negros assassinados no Brasil chegou a ser 132% maior do que o de brancos. Realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Vidas Perdidas e Racismo no Brasil mostra como o racismo está influenciando esse diferencial de taxa de homicídios.
Embora as razões para explicar esses dados não estejam totalmente evidentes, 20% da causa da morte de negros no Brasil pode ser atribuída a questões socioeconômicas, como diferenças em relação a emprego, moradia, estudo e renda do trabalhador.
Rede Carrefour tem histórico de racismo e agressão
O histórico de racismo e agressão do Carrefour não começou com o caso de João Alberto.
Em março de 2019, Luis Carlos Gomes tomou uma lata de cerveja dentro de uma filial do supermercado em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e foi perseguido e agredido pelo segurança e o gerente do supermercado. Recebeu um mata-leão (golpe dado no pescoço, que imobiliza a pessoa), teve múltiplas fraturas devido às agressões e ficou com uma deficiência em uma das pernas.
Em agosto de 2020, a auxiliar de limpeza Nataly Ventura da Silva, de 31 anos, foi demitida sob a justificativa de ter se “envolvido em situações de conflito com outros funcionários” em um dos hipermercados que integram o grupo Carrefour. Nataly conta que desde que começou a trabalhar no local sofreu perseguição por um colega. Ela chegou a ser surpreendida com a frase “só para branco usar” escrita em seu avental. No Ministério Público do Trabalho, a denúncia consta como injúria racial.
Também em 2020, em Recife (PE), um trabalhador faleceu durante o expediente em uma das unidades do Carrefour na cidade. O corpo foi coberto com guarda-sóis, caixas de papelão e tapumes improvisados pelos funcionários, para que a loja pudesse permanecer funcionando.
Em todos esses casos, o Carrefour se pronunciou informando que estava tomando as medidas necessárias de apoio às famílias e que tinha demitido os funcionários responsáveis.
A responsabilidade social corporativa
O histórico da rede Carrefour em apenas um ano mostra como a legislação brasileira é omissa em penalizar empresas por ações racistas e pela violação aos direitos humanos.
A recorrência de infrações não acontece apenas na rede de supermercados. São centenas de lojas e redes varejistas pelo país que faturam com trabalho infantil, trabalho escravo, ausência de direitos trabalhistas, omissão em casos de racismo, poluição ambiental e degradação do meio ambiente.
Pesquisa realizada pela Authenticity Gap mostra que os consumidores brasileiros esperam posicionamento das empresas contra as desigualdades e, em especial, contra o racismo. A nova geração de funcionários espera que suas empresas tenham programas de diversidade racial e de gênero, e atuem com sustentabilidade ambiental. A maioria afirma considerar essas ações das empresas na hora de aplicar para a vaga de emprego.
Uma mudança real de cultura e valores dentro de uma empresa transcende as ações de marketing positivo nas mídias sociais. Primeiro é preciso compreender que a empresa tem que mudar sua cultura e normas, e definir uma nova política de luta e combate ao racismo e ao preconceito.
Essa política deve sair do papel por meio de uma agenda interna de palestras, seminários, cursos e aplicação de protocolos de denúncia que será ensinada a todo o quadro de funcionários que compõem as atividades.
Também é necessária uma mudança de posicionamento externo, com clientes e fornecedores, sobre a nova política da empresa e instruir os funcionários sobre como agir em uma situação de racismo.
Atualmente existem empresas especializadas em fornecer treinamento e apoiar outras empresas nessas mudanças necessárias. O primeiro passo é reconhecer que vivemos em um país racista, que precisa de mudanças estruturais complexas, e que é dever das empresas se posicionarem para gerar impacto social positivo.
O que achou deste conteúdo sobre a responsabilidade social corporativa? Aproveite sua visita em nosso blog para complementar sua leitura, acessando nosso conteúdo sobre o objetivo e a importância do Dia da Consciência Negra!