Foto: Oxfam Internacional
Nos últimos três anos, Myanmar vive um conflito étnico pouco conhecido. O país que fica ao sul da Índia, faz fronteira com Bangladesh, Laos e Tailândia, tem vivido cenas de terror — o que já foi chamado pela ONU de “limpeza étnica”.
Há uma disputa territorial em Myanmar. Um dos estados do país, chamado Rakhine, localizado a oeste, tem população majoritária do grupo étnico rohingyas. Eles são minoria no país, têm linguagem própria e são mais de um milhão de pessoas sem direitos reconhecidos e cidadania.
A origem do conflito está na recusa do governo em reconhecer os rohingyas como cidadãos de direito de Myanmar, com alegação de que são naturais de Bangladesh. Os refugiados rohingya defendem, no entanto, que são descendentes de mercadores muçulmanos trazidos para Myanmar por meio da exploração ultramarina britânica no século 19.
Legalização e reconhecimento dos rohingyas
O processo de legalização e reconhecimento dos rohingyas já é pauta de políticas na região desde 1948, quando Myanmar tornou-se independente. Porém, o país passou por um golpe militar em 1962 e esse direito foi negado.
Em 1982, foi aprovada uma nova lei de cidadania, porém, poucos conseguiram ter acesso aos documentos necessários para legalização. Os rohingyas representam hoje cerca de 10% dos apátridas do mundo todo.
Entretanto, este conflito não é apenas territorial. Os rohingyas sofrem perseguição religiosa em um país predominantemente budista, que entende a cultura islâmica como uma ameaça.
Escalada da violência
Em 2017, começou uma escalada de violência e insatisfação em Rakhine, onde militantes insurgentes atacaram pontos de controle, incendiaram postos de segurança e mataram policiais com objetivo de “estabelecer um estado muçulmano democrático” .
O exército de Myanmar respondeu com forte repressão militar, causando mortes, pânico e expulsão de moradores. Neste cenário, mais de 97 mil rohingyas fugiram para Bangladesh no mesmo ano.
Mesmo após tantos anos, o conflito ainda não cessou em Rahkine. Estima-se que mais 114 mil sofreram violência, houve mais de 24 mil mortes, casas foram queimadas e mais de 18 mil mulheres e meninas foram violentadas.
Os rohingyas que permanecem em seu estado ainda são considerados apátridas e o governo tem dificultado a saída do país por meio de instalação de minas nas fronteiras e estradas. Calcula-se que mais de ¾ do povo rohingya viva fora de Myanmar atualmente.
Êxodo de mais de 1,2 milhão de rohingyas
Três anos após o início desta fuga, estima-se que há mais de 1,2 milhão de refugiados rohingya em Bangladesh, Indonésia, Laos e outros países.
Hoje, Bangladesh possui um dos maiores acampamentos com mais de 600 mil refugiados e o governo está dedicado em ajudar e apoiar estes imigrantes. Contudo, esta não é uma solução sustentável. Eles desejam retornar para suas terras, mas com direitos e segurança.
Há uma grande pressão internacional para que Myanmar ofereça uma solução e receba-os de volta. Porém, não houve avanços nas negociações. Hoje, eles são o quarto país com maior deslocamento internacional.
Coronavírus agrava a crise dos refugiados Rohingya
Centenas de milhares de refugiados nos campos rohingyas já estavam em situação de vulnerabilidade antes da pandemia do novo coronavírus. Com o crescente número de contaminados e mortos pela covid-19 em todo o mundo, autoridades afirmaram que um surto nos campos de refugiados poderia ter consequências catastróficas.
O governo de Bangladesh e organizações internacionais reuniram-se para atender o possível surto de coronavírus nos campos de refugiados e entre a população que vive nas imediações. Para isso, foram desenvolvidos programas de conscientização e higiene para os refugiados.
Entretanto, as condições são precárias, não há instalações sanitárias suficientes, há superlotação das moradias, poucas saídas de água potável e muitas famílias compartilham banheiros. Além disto, o pouco acesso a redes telefônicas e celulares foi mais uma problemática enfrentada para a conscientização em massa deste povo.
Ajuda humanitária na pandemia
Muitos refugiados chegaram a recusar fazerem o teste para covid-19 com receio de terem que abandonar os campos. Ainda não há números exatos de mortos e infectados por coronavírus nos campos, mas já há relatos dos primeiros casos.
Hoje são mais de 135 mil crianças sem acesso à escola, educação ou formação. Os campos vivem por meio de programas da ONU (Organização das Nações Unidas) como o PNA, que doa mais de 20 milhões de dólares para a alimentação dos refugiados. E ações de ONGs e instituições nacionais e internacionais que ajudam durante a pandemia.
A Oxfam faz parte deste ciclo e envia ajuda por meio do seu Fundo Emergencial desenvolvido para atender populações em situações semelhantes. Nosso foco tem sido o abastecimento de água e saneamento, além de oferecer adaptações para melhorar as condições de superpopulação dos assentamentos.