Conte um pouco sobre sua história.
Tenho 23 anos, nascida e residente da capital São Paulo. Comecei a pintar com 14 ou 15 anos, mas sempre fiz aulas de desenho, sempre estive muito em contato com a arte, seja estudando História da Arte, seja me aplicando a cursos técnicos, cursos de pintura e de desenho.
Durante o período da faculdade, fiz Artes Visuais e foi aí que, então, estive totalmente em contato com várias formas de fazer arte, porque eu não estudava só pintura, eu estudava gravura, escultura. Enfim… outras formas de me expressar.
Nisso, eu me debrucei bastante sobre a pintura, estive muito em contato com que eu realmente queria fazer, que era pintar. Durante a faculdade isso foi aflorando cada vez mais, sempre procurei fazer pesquisa na pintura e a partir daí levava para outros campos. Por exemplo, saía da pintura e ia para gravura ou para a escultura. Atualmente, mais recentemente, eu tenho feito só pintura.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
Quando se trata de desigualdade brasileira, é algo com que eu sempre lidei, sempre tive que lidar, porque sempre tive que sair de onde eu estava para pegar um transporte e encontrar com essas desigualdades de cara.
Eu morei em Carapicuíba com a minha avó – que mora até lá até hoje – e é fora da capital [de São Paulo]. Um lugar que tem muita coisa acontecendo, perto de Barueri e outras zonas que não são o centro. Então, esses lugares marginalizados, que normalmente são cidades dormitórios, onde as pessoas saem das suas casas e vão até o trabalho, fazem o translado com o seu corpo, é outro contato com essas desigualdades. Essas pessoas carregam outros traumas, mas não têm esse tempo para pensar neles, para verem essas desigualdades.
Tem muitas relações de desigualdades sociais brasileiras que no meu contexto São Paulo é muito latente porque é uma cidade extremamente desigual. É um lugar que tem pessoas que têm muito e pessoas que não têm nada. E como tem essa revitalização da capital, que tem tirado as pessoas que residem na rua para ficarem jogadas em outros lugares que também são a rua, porém, mais afastado. Tem todas essas coisas acontecendo diariamente. Além de enxergar as desigualdades brasileiras como uma coisa que não tem fim porque ela está favorecendo outras pessoas. Se tem alguém sem comer, tem alguém ficando mais rico…
É uma problemática que não tem fim, que atinge esse ponto básico, onde as pessoas não têm o básico… É algo que não cabe mais, nunca coube.
Fale sobre sua obra que está no calendário Oxfam Brasil 2022.
Minha obra fala bastante sobre natureza, apesar de eu precisar sair de São Paulo para ter contato com a natureza. Ela fala bastante do nosso lugar junto com o que é orgânico e o que existe, e o que está existindo, e o acontecendo e o que vive só por viver.
Várias das minhas obras, não só a que eu trouxe para o calendário, têm essa ligação muito forte com o que eu entendo de humano e o que eu quero para o meu humano. Como essa ligação corporal e vegetal estão agrupadas e podem estar em harmonia – mais do que já estão naturalmente. E como essa quebra de contrato com a natureza custa caro, custa uma coisa caótica. É uma coisa que eu trago de uma forma fluída nas minhas pinturas.