Conte um pouco sobre sua história.
Meu nome é Luiz Carlos Fernandes, pseudônimo ‘Fernandes’. Nasci em 05/10/1959, sou natural de Avaré, interior de São Paulo. Sou ilustrador, quadrinista, chargista, cartunista e escultor. Como toda criança desenho desde pequeno, porém desenvolvi a arte na adolescência nos anos 1970, quando trabalhava numa banca de jornais na minha cidade. A banca era meu ‘Google”, onde eu passava o tempo desenhando nos cartazes de propaganda. Rodeado de livros, gibis, revistas, jornais e pessoas cultas que frequentavam o espaço, não faltavam referências para praticar a arte da caricatura, e também aguçar meu senso crítico naqueles tempos sombrios da ditadura, assim desenvolvendo também a charge. Fui entregador de jornal, vendedor de jornal e hoje trabalho numa redação de jornal. Público desde de 1979. Mudei para o Grande ABC em 1982. Ganhei em 1997 o troféu HQmix de “Melhor ilustração infantil” com a coleção Castelo Rá-Tim-Bum e de “Melhor caricaturista do Brasil” em 2009. Tenho mais de 60 prêmios no Brasil e exterior.
Destaco o primeiro lugar na categoria caricatura no ‘World Press Cartoon”(Portugal), em 2018, o ‘Grande prêmio” no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Sou contratado pelo Diário do Grande ABC e moro em Santo André-SP.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
Eu nunca perco a esperança de dias melhores e torço para que um dia tenhamos políticos na sua maioria comprometidos de verdade com a cultura, o meio ambiente e principalmente a educação. Um povo culto escolhe bem seus representantes e esse é o caminho para combater as desigualdades. A pandemia de covid-19 escancarou essa desigualdade que existe no Brasil, mostrou que o pobre, maioria negros nas comunidades são os mais afetados, sem planos de saúde e o mínimo para sobreviver, sem acesso à internet para participar de aulas on line (incluo também os indígenas). Triste retrato do Brasil que vem sendo ‘pintado’ desde o período colonial, monarquia e república. A nossa princesa Isabel, sob forte pressão dos intelectuais, artistas, poetas etc. assinou a lei áurea e finalmente o negro se livrou das correntes, porém sem nenhum benefício ou pagamentos pelos serviços prestados. Sem moradias, foram deixados as margens da sociedade, confinados nos morros. sofrendo até hoje com a falta de oportunidades e o preconceito.
Logo após a abolição dos escravos, nasceu a República, devido ao descontentamento de fazendeiros, religiosos e poderosos, pois teriam que pagar pela mão de obra vinda de fora. A coisa boa do nosso regime é a democracia e temos que lutar, pois ela nos dá a liberdade de discutir, criticar, expor ideias e encontrar o caminho correto e justo.
Fale um pouco sobre o seu desenho no calendário Oxfam Brasil 2021.
O meu cartum poderia ser uma charge atemporal, mostra o antes e o agora. É uma comparação com o período da escavidão e os dias atuais do trabalho informal, o subemprego. A figura do escravo carregando a liteira e o descendente carregando o carrinho de recicláveis, nele uma manifestação gráfica sobre “vidas negras importam”.