Conte um pouco sobre sua história.
Nasci em 1993 na zona leste de São Paulo e até hoje moro na mesma região. Vivo em um bairro periférico, no extremo da cidade, em uma área tranquila mesmo com todos os problemas que cercam a periferia.
Meu pai veio de Minas Gerais e minha mãe da Bahia, ambos passaram por vários tipos de trabalho para ser manter numa grande metrópole como essa.
Estudei desde a criança em escolas pública. Ao sair do ensino médio, consegui uma bolsa parcial para um curso técnico no Senac na área de moda. Depois de finalizar esse curso técnico, entrei no curso superior de licenciatura em artes visuais numa faculdade privada.
Foi um grande choque de realidade sair da escola pública fazer parte de um curso que não era tão falado dentro da grade escolar, conviver com pessoas que vivem outras realidades. Foram processos que me fizeram entender várias camadas de desigualdade desde a minha família até o meus semelhantes do bairro.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
Vejo como um projeto colonial que existe desde o desenvolvimento do país seja no contexto de exploração de mão-de-obra negra e indígena, e na dificuldade que os movimentos sociais têm em aplicar as políticas públicas para diminuir as disparidades desses grupos.
Logo acredito que essas desigualdades são baseadas em relações de raça e classe.
Fale sobre sua obra que está no calendário Oxfam Brasil 2022.
Fiz as casas ao fundo e a personagem centralizada pra formar uma composição visual que remetesse a uma figura só. A paleta de cores das casas foi pensada no tom de pele das pessoas que são maioria nas regiões dos extremos da cidade, para dar uma ideia de unidade, inclusive o título da obra deixa isso bem nítido. Os traços nos olhos foram inspirados em referências egípcias evidenciando um resgate de ancestralidade presente também na periferia.