Conte um pouco sobre sua história.
Me chamo Mayara Smith, multiartista, pesquisadora e designer, vivendo em Belo Horizonte, Minas Gerais. Enquanto artista pesquiso sobre identidade e corpo negro, principalmente feminino, abordando minhas vivências enquanto uma mulher vinda de uma família interracial, meus sentimentos e minha pluralidade. O autorretrato se tornou um grande auxiliador na minha jornada de entendimento de quem eu sou. Gosto de romper com as barreiras de representação e explorar diversas linguagens na produção de imagens. Trabalhando artes digitais, tradicionais, fotografias e com as sombras e silhuetas do mundo.
Atualmente participo também da coletiva de mulheres negras, a Negráfrica, nascida em 2019. Juntas produzimos um podcast, experimentações e publicações, além de ações em arte e cultura, a fim de também expandirmos vozes de outros artistas racializados e suas produções.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
Devido à nossa história, de anos de colonização, violência com corpos negros, indígenas, imigrantes e LGBTQIA+, os grupos privilegiados do Brasil se acostumaram a normalizar a desigualdade, em seus diversos âmbitos. Um falso discurso de “somos todos iguais”, em um país onde oportunidades e acessos não são os mesmos, e as pessoas também não, em suas singularidades, vivências, religiões e culturas.
Para mim, enquanto parte desta minoria, sendo uma mulher negra e artista, é impossível ignorar a desigualdade, quando essa é uma das primeiras realidades que aprendi a encarar já na infância. O racismo afeta diversas questões em minha vida e na vida de outros corpos. Nos obrigando a lidar com ele em todos ambientes em que existimos e transitamos. Obrigados a entender que não entendem nossa presença como bem-vinda, nossos sonhos como válidos e nossa existência e potência como algo real. É difícil quebrar com traumas e essas barreiras que nos são ensinadas desde cedo. A desigualdade adoece, mata e destrói.
Fale sobre sua obra que está no calendário Oxfam Brasil 2022.
A arte “ O Brasil está acima de todos” é uma maneira de reforçar a memória de milhares de vidas perdidas durante a pandemia, junto ao descaso político e apropriação de nossa bandeira para significados de violência e opressão. Torna-se difícil acreditar que verde representa vida, amarelo riquezas, azul nossas águas e o branco paz, quando o que vem ocorrendo é justamente o contrário. Morte, fome, desmatamento e escassez de nossos recursos e direitos.