Mais mulheres e crianças foram mortas em Gaza pelo exército israelense no último ano do que no período equivalente de qualquer outro conflito nas últimas duas décadas, concluiu uma nova análise da Oxfam.
À medida que as hostilidades e a trágica perda de vidas se espalham no Líbano e na Cisjordânia – incluindo Jerusalém Oriental – a escalada na região sublinha a urgente necessidade de um cessar-fogo imediato e permanente.
Dados conservadores mostram que mais de 6.000 mulheres e 11.000 crianças foram mortas em Gaza pelo exército israelense nos últimos 12 meses. Dados de 2004 a 2021 sobre mortes diretas em conflitos, do Small Arms Survey, estimam que o maior número de mulheres mortas em um único ano foi de mais de 2.600 no Iraque em 2016.
A ofensiva militar de Israel começou em outubro passado, após os ataques do Hamas e de outros grupos armados palestinos. Quase 1.200 israelenses e estrangeiros foram mortos, incluindo pelo menos 282 mulheres e 36 crianças – o dia mais mortal na história de Israel. Esses ataques direcionados constituíram sérias violações do Direito Internacional Humanitário (DIH). Mais de 250 pessoas, incluindo 38 crianças, foram sequestradas, das quais 96 ainda são relatadas como mantidas em Gaza.
Dados da Action on Armed Violence até 23 de setembro mostram que Israel lançou ataques cntra a infraestrutura civil em Gaza com armas explosivas uma vez a cada três horas, em média, desde o início da guerra. Além da pausa humanitária de seis dias em novembro passado, houve apenas dois dias em todo o ano sem bombardeio.
Registros – que não são abrangentes – mostram que as armas explosivas israelenses atingem, em média:
- Uma casa a cada quatro horas
- Uma tenda e/ou abrigos temporários a cada 17 horas
- Uma escola ou hospital a cada quatro dias
- Pontos de distribuição de ajuda e armazéns a cada 15 dias
Ao longo do último ano, Israel cometeu violações do direito internacional humanitário tão graves que podem constituir crimes contra a humanidade. O nível de destruição observado é indicativo do uso desproporcional da força por parte de Israel em relação a objetivos militares e da incapacidade de discernir entre um alvo militar e a população civil. O exército israelense lançou ataques constantes a infraestruturas vitais para a sobrevivência da população civil, que foi deslocada à força dezenas de vezes para as chamadas “zonas seguras”, que não atendem às obrigações humanitárias e que também têm sido bombardeadas ou atacadas regularmente.
Os relatórios das Nações Unidas sobre “Crianças e Conflitos Armados” enfatizam o número de crianças palestinas mortas em Gaza e na Cisjordânia. No último ano, o número de crianças falecidas em Gaza é cinco vezes maior do que o total de mortes dessa faixa etária entre 2005 e 2022.
O número sem precedentes de mulheres, meninas e meninos falecidos em Gaza não inclui cerca de 20.000 pessoas não identificadas, desaparecidas ou sepultadas sob os escombros. No início deste ano, um estudo publicado na revista The Lancet estimava que o número real de mortes em Gaza poderia ser superior a 186.000, considerando as mortes indiretas, como as causadas pela falta de alimentos ou atendimento médico.
As infraestruturas civis foram completamente destruídas ou gravemente danificadas, incluindo cerca de 68% das terras cultiváveis e das estradas. Apenas 17 dos 36 hospitais continuam funcionando parcialmente, e nenhum deles dispõe de combustível, suprimentos médicos e água potável suficientes.
Sally Abi Khalil, diretora regional da Oxfam para o Oriente Médio, afirma: “Esses números tão impactantes são terríveis e desgarradores. Os atores influentes da comunidade internacional não apenas não responsabilizaram Israel, mas tornaram-se cúmplices das atrocidades ao continuarem a fornecer armas sem condições. Levará anos e gerações para que consigam se recuperar dos devastadores efeitos desta guerra, e ainda não há um cessar-fogo à vista.
“Nossos colegas e organizações parceiras também estão deslocados, mas todos os dias fazem o possível para responder a essa catástrofe humanitária. É uma crise sem precedentes em muitos níveis: desde o avanço acelerado da fome até o ressurgimento da poliomielite ou a devastação total da vida cotidiana enfrentada por toda a população. Devemos pôr fim ao passe livre que confere impunidade e isenção do direito internacional humanitário a Israel: não podemos permitir que o horror e o sofrimento incessantes continuem.”
Dr. Umaiyeh Khammash, diretor da Juzoor, uma organização parceira da Oxfam que oferece apoio a centenas de milhares de pessoas em mais de 90 abrigos e pontos de atendimento médico em toda a Gaza, afirma: “Os efeitos deste último ano foram devastadores, e as mulheres tiveram que enfrentar uma dupla carga. Muitas se tornaram do dia para a noite as chefes de família, lutando pela sobrevivência e pelos cuidados em meio à destruição. Mães grávidas e lactantes enfrentam grandes dificuldades devido ao colapso dos serviços médicos, entre outros fatores.
“O trauma que as meninas e meninos sofrem é igualmente profundo. Mais de 25.000 crianças perderam um dos pais ou se tornaram órfãs, o que os deixou mergulhados em profundo transtorno emocional. A maioria das crianças sofre de ansiedade e graves lesões físicas, e muitas perderam algum membro.”
Na Cisjordânia ocupada, a escalada e os níveis de violência sem precedentes indicam que graves violações do direito internacional e crimes de guerra estão sendo cometidos. Desde outubro passado, mais de 680 palestinos morreram devido à violência da ocupação israelense ou aos ataques do exército. Foram registrados mais de mil agressões da ocupação contra a população palestina, com ataques diretos a terras agrícolas que resultaram na destruição de cultivos, sistemas de irrigação e estufas, incluindo projetos com financiamento internacional que recebiam apoio da Oxfam. O exército israelense forçou a demolição de mais de 2.000 habitações no território palestino, causando danos severos à infraestrutura pública, incluindo estradas.