Há dez anos, a Assembleia Geral da ONU estabeleceu o Dia Mundial da Ajuda Humanitária, criado para homenagear trabalhadores humanitários e mobilizar o apoio da sociedade e de governos a pessoas afetadas por diferentes crises e emergências em todo o mundo.
O dia escolhido foi o 19 de agosto, data em que, no ano de 2003, um atentado terrorista em Bagdá atingiu o escritório das Nações Unidas no Iraque e deixou mais de 150 civis feridos e causou a morte de 22 membros da ONU, incluindo o reconhecido e respeitado diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello (1948-2003), então representante do secretário-geral da ONU naquele país.
A partir da institucionalização dessa data, a comunidade humanitária passou a organizar campanhas globais para defender a segurança de seus trabalhadores e trabalhadoras e a garantia de sobrevivência, bem-estar e a dignidade de milhões de pessoas afetadas.
Mais de 130 milhões de pessoas vivem hoje em situação de extrema vulnerabilidade causada por diferentes emergências em diversas partes do mundo. Desse número, um pouco mais de 95 milhões estão recebendo ajuda humanitária, o que significa 35 milhões de pessoas desassistidas.
Só no ano passado, cerca de 70 milhões de homens, mulheres e crianças tiveram que deixar suas casas —dois terços delas cruzando as fronteiras de seus países para tentar encontrar algum tipo de segurança.
Esse gigantesco contingente de seres humanos sofre não só com guerras e conflitos armados, mas também com desastres naturais, alguns deles já associados às mudanças climáticas, com crises econômicas e/ou perseguição étnica ou religiosa.
Trabalhando em parceria, organizações humanitárias internacionais e locais alcançam milhões de pessoas em todo o mundo com projetos e ações que salvam vidas e oferecem apoio e alívio em situações de grande estresse físico e psicológico. São milhares de pessoas que, muitas vezes, arriscam suas próprias vidas. Os desafios são vários e, ainda que seja reconhecida a evolução do setor humanitário, o caminho segue longo.
A Oxfam Brasil faz parte da Confederação Oxfam, organização que há mais de 70 anos tem a ajuda humanitária como um de seus pilares de atuação, seja por meio de projetos de água, saneamento e higiene e segurança alimentar, como também na proteção de pessoas em situação de conflitos.
Em um mundo onde o respeito à dignidade humana e à diversidade está deixando de ser um valor fundante da sociedade, onde as pessoas cada vez valem menos, onde privilégios e interesses dos mais diversos se sobrepõem à noção de bem comum, o trabalho de organizações de ajuda humanitária segue imprescindível, seja aliviando o sofrimento, seja salvando vidas.
Katia Maia
Socióloga e diretora-executiva da ONG Oxfam Brasil
(artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, dia 20 de agosto de 2018)