O grande desafio no debate sobre justiça climática, que é um tema global, é falar sobre o tema a partir dos impactos diretos nos territórios locais – quebradas, periferias, comunidades, favelas e quilombos. Para Amanda Costa, uma das fundadoras do Instituto Perifa Sustentável, é preciso democratizar urgentemente a causa climática.
“Um dos meus focos de vida, que dá fluidez para tudo que venho construindo, é como a gente democratiza a causa climática nas periferias e favelas”, afirmou Amanda, primeira entrevistada do programa Conversas para Mudar que a Oxfam Brasil estreou em seu canal no Youtube.
O programa foi realizado nesta terça-feira (12/3) na livraria Tapera Taperá, em São Paulo, e contou com participação de Bárbara Barboza, coordenadora da área de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil. A série de entrevistas promoverá mensalmente encontros para discutir diferentes aspectos das desigualdades brasileiras. O tema do primeiro programa foi a crise do clima e como ela afeta mais as populações em maior situação de vulnerabilidade – população negra, indígena e quilombola.
Da Brasilândia para o mundo
Amanda Costa começou sua atuação em Brasilândia, na zona norte de São Paulo, com ações educativas e diretas em periferias. É uma jovem ativista climática que passou a representar parte da juventude brasileira em fóruns multilaterais como embaixadora do Pacto Global da ONU. Em 2017, participou da Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP 23) em Bonn, na Alemanha, e lá sentiu falta de ver pessoas que se pareciam com ela discutindo a agenda climática.
“Por que só tem homem branco e rico falando sobre como a crise climática vai impactar o Brasil? Cadê a diversidade nesse debate?”
Assim, quando voltou da Alemanha, decidiu engajar sua comunidade e família no tema, mas percebeu logo que era preciso mais escutar do que falar para saber o que as pessoas tinham a dizer sobre o assunto e como o tema chegava à realidade dessas pessoas.
“Aí eu tive algumas descobertas. Primeira delas: a pauta climática no Brasil ainda está muito desconectada da periferia. É muitas vezes elitista demais a forma como o tema é colocado e não conecta com a base.”
Conectando o local com o global
Ao voltar da Alemanha, Amanda começou a pensar como criar pontes e laços para fazer a conexão do local com o global, e a partir daí nasceu o Instituto Perifa Sustentável, para democratizar a causa climática e levar a voz da periferia para os espaços de tomadas de decisão.
“Somos uma organização que atua para mobilizar a juventude, principalmente periférica, para criar uma nova agenda de desenvolvimento, fundamentada em raça e clima, entendendo que não dá para ter justiça ambiental sem justiça racial.”
Em sua conversa com Bárbara Barboza, Amanda explicou algumas estratégias que usa para simplificar o discurso e assim poder engajar mais a juventude sobre as questões da crise climática que afetam seu dia-a-dia e das pessoas em geral nas comunidades. Lembrou ainda como o termo ‘racismo ambiental’ foi cunhado na década de 1980 e sua importância para identificar alguns dos principais fatores que contribuem com o maior impacto das mudanças climáticas sobre as populações negras e indígenas no país.
Assista à conversa com Amanda Costa na íntegra: