A crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus vai empurrar 500 milhões de pessoas para a pobreza a menos que ações urgentes sejam tomadas para ajudar países em desenvolvimento. O alerta foi feito nesta quinta-feira (9/4) pela Oxfam com a publicação do relatório “Dignidade, não Indigência”.
O relatório utiliza estimativas elaboradas pela United Nations University World Institute for Development Economics Research (UNU-WIDER), pesquisadores do King’s College London e da Australian National University.
A Oxfam pede que os líderes mundiais aprovem, na reunião da próxima semana entre ministro de Economia dos países do G20, o Banco Mundial e FMI, um Plano Emergencial de Resgate Econômico para Todos para impedir que países e comunidades pobres afundem.
O novo relatório da Oxfam Dignidade, não Indigência, informa que entre 6% e 8% da população global, cerca de 500 milhões de pessoas, poderá entrar na pobreza conforme os governos fecham suas economias para impedir que o coronavírus se espalhe em seus países. Com isso, teremos retrocesso de uma década na luta contra a pobreza – em algumas regiões, como a África subssariana, norte da África e Oriente Médio, essa luta pode retroceder em até 30 anos. Assim, mais da metade da população global pode estar na pobreza depois da pandemia.
Desigualdades ditam impacto econômico
As desigualdades existentes ditam o impacto econômico da crise do coronavírus. Como os trabalhadores mais pobres, tanto nas nações ricas como nas pobres, atuam mais no mercado informal, eles estão descobertos de diversas formas. Eles por exemplo não têm proteções trabalhistas e nem conseguem trabalhar de casa. Globalmente, apenas um em cada cinco desempregados tem acesso a benefícios como seguro-desemprego. Dois bilhões de pessoas trabalham no setor informal pelo mundo – 90% nos países pobres e apenas 18% nos países ricos.
A necessária e urgente adoção das medidas de distanciamento social e de funcionamento das cidades restrito aos serviços essenciais agravam a situação dos trabalhadores. Isso pode acontecer com demissões, suspensão de pagamento de salários ou inviabilidade do trabalho informal. No Brasil, a situação é ainda mais preocupante, devido às moradias precárias, a falta de saneamento básico e os desafios no acesso a serviços essenciais.
Situação do Brasil
O Brasil tem cerca de 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e cerca de 12 milhões de desempregados. Estima-se que a crise econômica provocada pelo coronavírus adicione, ao menos, mais 2,5 milhões de pessoas entre os desempregados, segundo analistas.
“O coronavirus coloca o Brasil diante de uma dura e cruel realidade ao combinar piores indicadores sociais, em um mesmo local e na mesma hora. E é nesse momento que o Estado tem um papel fundamental para reduzir esse impacto e cumprir sua responsabilidade constitucional tanto na redução da pobreza e das desigualdades como na garantia à vida da população”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
A Renda Básica Emergencial de R$ 600,00 aprovada pelo Congresso Nacional e Presidência da República é uma primeira ação para minimizar esse impacto, mas está longe de ser suficiente. Será preciso ampliar o número de pessoas atendidas, garantir agilidade nos pagamentos, estender o período de concessão da renda e fazer o movimento para avançar em uma Renda Básica Cidadã, agenda pendente no Brasil há décadas.
Prioridade deve ser a responsabilidade humana
Sendo a situação de extrema gravidade, Katia Maia afirma que é preciso agir com seriedade, rapidez, transparência, eficiência e coerência. “Estamos vivendo um momento em que a prioridade deve ser a responsabilidade humana, tanto em preservar vidas como em fornecer as condições econômicas para a maioria excluída do nosso país.”
O coronavírus vai empurrar milhões para a pobreza e boa parte desse contingente será de mulheres. Elas estão na linha de frente do combate à doença e da crise econômica e, sendo assim, precisam de atenção especial. Elas representam 70% da força de trabalho em saúde pelo mundo e fazem 75% do trabalho de cuidado não remunerado. São mulheres que em geral cuidam de crianças, doentes e idosos. Também são maioria nos empregos mais precários, que estão sob risco com a crise econômica provocada pelo coronavírus. Por isso, o impacto do coronavírus será mais pesado sobre as mulheres.
Lições da crise de 2008
Portanto, é urgente que os recursos estejam disponíveis para impedir que a pandemia de coronavírus destrua a vida de milhões pelo mundo. Os US$ 2,5 trilhões que a ONU estima serem necessários para apoiar os países em desenvolvimento durante a crise do coronavírus vai requerer também um adicional de US$ 500 bilhões em ajuda externa. Além disso, são necessários US$ 160 bilhões para financiar sistemas públicos de saúde e US$ 2 bilhões para fundo humanitário da ONU.
Impostos emergenciais de solidariedade, como taxas sobre lucros excessivos e pessoas muito ricas, poderia mobilizar recursos adicionais importantes neste momento em que o coronavírus vai empurrar milhões para a pobreza.
“Os governos precisam aprender as lições da crise financeira de 2008, quando a ajuda a bancos e corporações foram pagas pelas pessoas comuns. Elas perderam seus empregos, tiveram seus salários achatados e serviços essenciais como os de saúde sofreram profundos cortes de financiamento”, afirma Katia Maia.
“Os pacotes econômicos de estímulo têm que apoiar trabalhadores e pequenos negócios. As ajudas a grandes corporações têm que estar condicionadas a ações para a construção de economias mais justas e sustentáveis. “