Nesta quarta-feira, 22, a parlamentar britânica e ex-trabalhadora da Oxfam Jo Cox completaria 42 anos. Mas há exatos seis dias, sua carreira na luta por direitos foi interrompida de forma brutal e covarde. Joe possivelmente foi assassinada por causa de seus ideais e por seu histórico de ativismo contra a injustiça, a discriminação e a intolerância. Infelizmente, ela não é a única.
Todos os dias, centenas de pessoas em todo o mundo perdem suas vidas por lutarem por justiça, igualdade e dignidade. Vivemos um tempo de intolerância, de ódio e de violência massificada. Tempo de agressões virtuais, físicas, verbais e psicológicas. Tempo em que ser diferente, estar em situação de pobreza ou de marginalização pode atrair não apenas o desrespeito e a dor, mas também a morte. E quando a morte envolve minorias, as lutas se mantêm no anonimato.
No dia anterior à morte de Jo, cerca de 1 mil indígenas brasileiros sofriam ataque no sul de Mato Grosso do Sul, na Terra Indígena Dourados Amambaipeguá I. Em nota, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) afirmou que homens armados chegaram em um comboio de 60 caminhonetes e atiraram contra o grupo. O agente de saúde indígena Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos, não sobreviveu. Outros seis índios Guarani Kaiowá ficaram gravemente feridos, entre eles uma criança.
Quando Jo perdeu a vida, o mundo todo ainda se recuperava do choque do atentado à boate LGBT em Orlando, nos Estados Unidos. Muitos brasileiros se solidarizaram, choramos o crime homofóbico contra 49 pessoas. Mas no Brasil, em 2015, 318 pessoas foram assassinadas em crimes relacionados à homofobia, segundo relatório do Grupo Gay Bahia. Este dado representa um crime de ódio à comunidade LGBT brasileira produzindo uma vítima fatal a cada 27 horas.
Jo era uma mulher reconhecida por sua liderança e por sua luta. Uma mulher como as centenas assassinadas no Brasil todos os anos. Segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil, dos 83 países analisados pela Organização Mundial de Saúde em dados sobre mortalidade, o Brasil ocupa a quinta posição em número de assassinatos de mulheres. Em cada grupo de 100 mil brasileiras, 4,8 são assassinadas todos os anos.
Somos uma população predominantemente negra em um país que deposita no povo negro as piores marcas da violência. De 2003 e 2013, o número de mulheres assassinadas cresceu 21% – entre as mulheres negras, o aumento chegou a 54% nos mesmos 10 anos. Relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens mostra que, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. Dos 30 mil jovens assassinados em 2012, mais de 23 mil eram negros, com idade entre 15 e 29 anos.
A vida de nossos jovens vale tanto quanto a vida de qualquer outra pessoa. Nossos índios, nossas mulheres, nossa população LGBT merecem os mesmos direitos, o mesmo respeito, a mesma dignidade.
Jo Cox alcançou o reconhecimento por sua luta diária pela diversidade e por causas humanitárias em diferentes lugares do mundo. Jo lutava por mulheres, por negros, por jovens, por refugiados, por populações marcadas por viverem à margem da sociedade. Que seu legado seja tão forte quanto a necessidade de mudança, de tolerância e de paz.
“Nós somos mais unidos e temos mais em comum do que aquilo que nos divide.”
Jo Cox em seu primeiro discurso no Parlamento Britânico em 2 de junho de 2015