Em meio à maior crise sanitária de sua história, da pandemia de covid-19 entre 2020 e 2022, o Brasil teve ainda que enfrentar intensos problemas socioeconômicos que deixaram milhões de brasileiras e brasileiros em situação de extrema vulnerabilidade. O mais grave deles foi a fome: segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mais de 33 milhões de pessoas estavam em situação de grave insegurança alimentar em 2022. O que fazer para enfrentar o problema?
Para Helio Santos, escritor, doutor em Administração pela FEA-USP e presidente do Conselho da Oxfam Brasil, o país precisa adaptar suas políticas públicas para atender as diferentes violências geradas pelas desigualdades, como a fome, estipulando recortes de raça, gênero, geração e região na construção e aplicação dessas políticas. Emancipação é a palavra-chave.
“É preciso customizar para ter programas de fato emancipatórios e que possam ser replicados”, afirmou Helio Santos durante participação nesta quinta-feira (13/4) no painel “Possibilidades para um Brasil sem fome e miséria” do 12o. Congresso GIFE 2023, realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo. O tema do Congresso este ano foi Desafiando Estruturas de Desigualdades.
Participaram também da mesa Malu Paiva, vice-presidente executiva de Sustentabilidade na Vale; Marcelo Neri, diretor da FGV Social e professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) da FGV; e Mariana Macário, gerente de políticas públicas da Ação pela Cidadania.
Helio lembrou durante sua palestra que o Brasil é capaz de construir bens sofisticados, mas não consegue impedir que crianças morram de desidratação e desnutrição, e que os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, são eficazes para combater a pobreza, mas não as desigualdades. Segundo Helio, a essência de uma política afirmativa, como a política de cotas, é que você não pode tratar as pessoas como se elas partissem das mesmas oportunidades e sofressem igualmente as consequências das desigualdades.