Foto: Adrienne Surprenant/Oxfam
Até 11 pessoas poderão morrer de fome e desnutrição por minuto até o fim de 2021 no mundo – número maior do que a atual taxa de mortalidade da covid-19, que é de sete por minuto – se nenhuma ação imediata for tomada para enfrentar as principais causas do problema: conflitos armados, covid-19 e crise climática.
Novo relatório da Oxfam, “O Vírus da Fome se Multiplica”, mostra que o número de pessoas vivendo em condições de fome estrutural aumentou cinco vezes desde o início da pandemia, chegando a mais de 520 mil. Revela também que mais 20 milhões de pessoas foram empurradas em 2021 a níveis extremos de insegurança alimentar, atingindo um total de 155 milhões em 55 países.
Os conflitos armados foram a maior causa de fome desde o início da pandemia e principal fator que levou quase 100 milhões de pessoas, em 23 países, a níveis de crise alimentar.
A fome também se intensificou em países de renda média como Brasil, Índia e África do Sul, que também têm sido duramente afetados pela pandemia de covid-19.
No Brasil, há quase 20 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), e a extrema pobreza quase triplicou, passando de 4,5% da população para 12,8%. O auxílio emergencial instituído pelo governo federal foi garantido para 38 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade, deixando dezenas de milhões de pessoas sem uma renda minima.
Acesse o relatório O Vírus da Fome se Multiplica:
“A pandemia de covid-19 escancarou as desigualdades brasileiras e trouxe essa emergência da fome a milhões de pessoas no país”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Vivemos uma situação catastrófica porque há uma negligência sem tamanho com a vida das brasileiras e brasileiros, que estão sem vacinas, sem ter o que comer, sem emprego e sem renda.”
O novo relatório da Oxfam também descreve o grande impacto que a crise econômica global, intensificada com a pandemia de coronavírus, teve sobre a vida de milhões de pessoas pelo mundo. Desemprego em alta e produção de alimentos em baixa levaram a aumentos de 40% nos preços globais da comida – o maior aumento em mais de uma década.
Apesar de todos os problemas provocados pela pandemia, o gasto militar global aumento em US$ 51 bilhões – o suficiente para cobrir em seis vezes e meia o apelo humanitário feito pela ONU para acabar com a fome no mundo. Enquanto isso, os conflitos armados e a violência provocaram o deslocamento recorde de pessoas globalmente, forçando 48 milhões de pessoas a fugirem de suas casas até o final de 2020.
Mulheres e meninas estão entre as pessoas mais afetadas
Para Gabriela Bucher, diretora executiva da Oxfam, trabalhadores informais, mulheres, pessoas deslocadas e grupos marginalizados estão entre os mais atingidos pelos conflitos armados e fome.
“Mulheres e meninas estão entre as mais afetadas, frequentemente comendo por ultimo e comendo menos. Elas enfrentam escolhas impossíveis, como ter que escolher entre ir até o mercado e arriscar ser abusada física e sexualmente ou ver suas famílias ficarem com fome.”
Os governos têm que parar com os conflitos armados, que contribuem significativamente para aumentar a fome no mundo, e ajudar as agências de ajuda humanitária a alcançarem aqueles que precisam de apoio. Os países mais ricos têm que financiar imediatamente os apelos humanitários da ONU para salvar vidas. O Conselho de Segurança da ONU tem também que punir todos os países que usam a fome como arma de guerra.”
Além de um cessar-fogo global para acabar com os conflitos armados pelo mundo, a Oxfam defende a Vacina para Todas e Todos e a construção de sistemas de produção de alimentos mais justos e sustentáveis, além do apoio a programas de proteção social para as pessoas em situação de vulnerabilidade.