O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é uma das instituições mais importantes e prestigiadas do Brasil, responsável pelo apoio técnico e institucional a ações do governo para formulação e acompanhamento de políticas públicas e programas de desenvolvimento. É com tristeza e decepção que a Oxfam Brasil vê o instituto ser usado pelo atual governo federal para desqualificar, por meio da Nota No. 12 assinada pelo presidente do Ipea e divulgada no último dia 17 de agosto, os dois inquéritos nacionais sobre insegurança alimentar elaborados em 2021 e 2022 pela rede Penssan, que reúne pesquisadores e especialistas no tema da insegurança alimentar e a fome.
Os relatórios da rede Penssan contaram, inclusive, com apoio de diversas organizações da sociedade civil, entre as quais a Oxfam Brasil, que têm forte comprometimento com a ciência cidadã, o conhecimento e o debate cientificamente fundamentado na realidade social do país.
São inúmeros os equívocos conceituais e de interpretação graves e enviesados contidos na nota divulgada pelo Ipea. Pinçaram elementos metodológicos convenientes para fazer caber a narrativa de que os dados da rede Penssan não refletem a realidade do país hoje e negar, assim, a triste e precária condição de segurança alimentar em que se encontram milhões de brasileiras e brasileiros. Compararam metodologias diferentes, utilizaram dados que subestimam a realidade do problema e divulgaram uma nota sem o apreço e validação de importantes e reconhecidos pesquisadores do próprio Ipea, algo inédito na longa história do instituto.
Em resposta à nota assinada pelo presidente do Ipea, os pesquisadores da rede Penssan divulgaram uma resposta afirmando ser “falacioso o argumento que contesta o inequívoco aumento progressivo da fome nos últimos quatro anos” e explicam detalhadamente como o presidente do Ipea mistura indicadores, “no mínimo para justificar omissões e fundamentar interpretação equivocada e tendenciosa das políticas de transferência de renda e de enfrentamento da pobreza”.