A segunda edição da Jornada das Pretas teve seu primeiro encontro presencial este ano, sexta-feira a domingo passado (25 a 27/11), com apresentação da Agenda Marielle Franco 2022, um conjunto de práticas e compromissos políticos antirracistas, feministas, LGBTQIA+ e populares, inspiradas no legado da vereadora carioca assassinada em março de 2018 no Rio de Janeiro.
O encontro foi organizado pela Oxfam Brasil em parceria com o Instituto Alziras, Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco. A Jornada das Pretas contou com outros 3 encontros este ano, todos de forma virtual.
Durante os três dias do encontro presencial, as participantes fizeram um balanço das eleições deste ano e do projeto em si, além da construção de estratégias para sua continuidade.
Mais espaço na política
Na abertura do encontro, na sexta-feira (25/11), Tauá Pires, coordenadora da área de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil, deu as boas-vindas: “Falar sobre desigualdades no Brasil não é só falar sobre renda, mas também sobre a questão racial. Por isso, a Jornada das Pretas é esse espaço de construção com vocês. As mulheres negras precisam ocupar cada vez mais a política”.
O relatório Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira, produzido pela Oxfam Brasil e o Instituto Alziras, embasou os debates. O documento mostra que, apesar da ampliação recorde da presença de mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e indígenas nas câmaras municipais nas últimas eleições de 2020, estamos longe de uma representação real de gênero e raça na política brasileira.
“A realização desse primeiro encontro presencial representa a celebração das conquistas dessa articulação coletiva com essas mulheres que vieram de todas as regiões do Brasil”, afirmou Roberta Eugênio, do Instituto Alziras. “Um final de semana olhando para esse panorama político e refletindo sobre novas respostas. Não aceitaremos que as mulheres negras não estejam no centro das decisões sobre o futuro do país.”
Longo caminho a ser percorrido
Sobre as eleições de 2022, a percepção das participantes é de que, ainda que tenha havido uma significativa vitória da democracia, o conservadorismo permanece e ainda há um longo caminho a ser percorrido para enfrentá-lo. Para isso, o fortalecimento das candidaturas negras deve ser de responsabilidade dos partidos.
O evento contou ainda com a participação das deputadas estaduais Divaneide Basílio (RN), Dani Portela (PE) e Laura Sito (RS). “Nós sabemos o tamanho das nossas trajetórias. Espaços como esse servem para a gente pensar a transformação da política”, disse Laura Sito.
Fabiana Pinto, do Instituto Marielle Franco, afirmou que o encontro resumiu bem os dois anos do projeto, com a possibilidade de construir um espaço de cuidado coletivo, que levou em conta todas as dores pelas quais as mulheres passaram durante a pandemia.
“Esse encontro presencial possibilitou a troca em um espaço de segurança e cuidado. Me lembrou um trecho de Beatriz Nascimento sobre aquilombar-se:
“O quilombo é um avanço, é produzir ou reproduzir um momento de paz. Quilombo é um guerreiro quando precisa ser guerreiro. E também é recuo se a luta não é necessária. É uma sapiência, uma sabedoria. A continuidade de vida, o ato de criar um momento feliz mesmo quando o inimigo é poderoso, e mesmo quando ele quer matar você. A resistência. Uma possibilidade nos dias de destruição.”
Beatriz Nascimento
Em muitos momentos dos debates apareceu a questão das fraudes nas autodeclarações de raça nas eleições. Logo após as eleições as deputadas Aurea Carolina, Talíria Petrone a Benedita da Silva apresentaram um PL sobre autodeclaração. Discutir essas questões foi importante porque não é algo que tenha uma solução simples e isso precisa ser mais debatido em lugares estratégicos.
No encerramento da atividade, a avaliação geral foi de que a Jornada das Pretas deve seguir. “É a concretização de um momento de encontro entre mulheres negras que sonham em construir um Brasil melhor, mais justo e mais representativo e, por isso, se colocam da disputa eleitoral mesmo diante de tantas adversidades. O resultado é de fortalecimento, união e conformação de agendas para seguir enfrentando a desigualdade na política e aprofundando a democracia.”, disse Tauá Pires.