O governo e as empresas brasileiras não estão amparando de maneira adequada os trabalhadores do país na crise do coronavírus e isso afeta principalmente os mais pobres e os informais, sem carteira assinada. Estes, se pararem, ficam sem trabalho, sem renda, sem ter o que comer.
A análise foi feita em ‘live’ promovida pela Oxfam Brasil em seu canal no Youtube na quinta-feira (9/4) com os convidados Nathalia Rodrigues (Nath Finanças), administradora e especialista em educação financeira de baixa renda, e Daniel Teixeira, advogado e diretor de projetos do Centro de Estudos das Relação de Trabalho e Desigualdades (Ceert). A mediação foi de Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
A transmissão teve como tema “Impacto da crise do coronavírus no mercado de trabalho brasileiro” – assista:
Semana passada a economista Mônica de Bolle e o ativista do movimento negro Douglas Belchior analisaram a importância da renda básica para apoiar os brasileiros em meio à crise. Veja aqui como foi.
“Quem não pode parar, quem realmente precisa trabalhar, é o pobre”, afirmou Nathalia Rodrigues. Além disso, muitas empresas não estão liberando seus funcionários, nem adotando as devidas medidas para impedir a contaminação deles pelo coronavírus. “Falta humanidade a esses empresários.”
Coronavírus afeta mais pobres e informais
Para Daniel Teixeira, a demora do governo primeiro em aceitar a gravidade da pandemia e, depois, em dar uma resposta à altura da emergência, pode trazer consequências graves para a população. “Ficamos sem liderança governamental, deixando a população despreparada para enfrentar o vírus.” Portanto, como o coronavírus afeta mais os pobres e os trabalhadores informais, esses têm que ter atenção especial, afirmou.
Katia Maia lembrou que o Brasil tem cerca de 40 milhões de trabalhadores informais e 12 milhões de desempregados. E são essas pessoas, afirmou, que precisam de uma rede de proteção social. O auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelo Congresso, por exemplo, foi uma medida importante, mas ainda é insuficiente. “Precisamos de um arcabouço mais sólido e abrangente de defesa dos direitos da maioria da população. Caso contrário, vamos aumentar muito as desigualdades e a pobreza no país.”
Papel social do governo e também das empresas
Daniel acrescentou que não só o governo, mas também as empresas precisam agir e mostrar seu papel social neste momento de crise. Além disso, ele critica a campanha para que o país retome as atividades normalmente. “A gente vê o governo federal fazendo propaganda de que o Brasil não pode parar. E, no vídeo da campanha, a maioria dos trabalhadores é negra. Ou seja: que Brasil é esse que não pode parar para que o outro Brasil usufrua? São os mais vulneráveis da periferia. Porque não conseguem.”
Na opinião de Nath Finanças, precisamos ter empatia com as pessoas e ajudar quem precisa. Assim, é preciso fortalecer o pequeno empreendedor, comprar dos pequenos comerciantes e prestar auxílio a quem precisa. “Vamos ajudar quem não sabe usar o aplicativo do governo para ter acesso aos R$ 600. Podemos também, por exemplo, disseminar informações úteis pelo Whatsapp. Medidas simples como estas já ajudam muito.”