Nesta quarta-feira, 8 de março, enquanto mulheres de todo o mundo se uniam em marchas e manifestações lembrando da importância da luta por justiça de gênero e igualdade, o presidente da República, Michel Temer, reforçava alguns dos estereótipos contra os quais lutamos há décadas.
Em seu discurso, o presidente fez afirmações que desconsideram as conquistas e lutas das mulheres. O presidente colocou sobre a mulher a responsabilidade total sobre a educação dos filhos. Afirmou que a “adequada educação e formação” é feita, seguramente, não pelo homem – “isso quem faz é a mulher”. Lembrou, com ênfase, “que na economia também a mulher tem uma grande participação”, uma vez que “ninguém mais é capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher”. O presidente ainda reforçou “a posição adequada na sociedade” que as mulheres possuem, com jornada dupla. Afirmou que “hoje, graças a Deus, (…) além de cuidar dos afazeres domésticos, elas terão um caminho cada vez mais longo para o emprego”.
O discurso constrangedor do presidente Temer reflete situações da sociedade que queremos mudar. Em maio de 2016, ele assumiu a presidência sem colocar nenhuma mulher no gabinete. Hoje, quase um ano depois, das 28 pastas, apenas duas têm mulheres à frente: Advocacia-Geral da União e Direitos Humanos. Como lembrado pelo presidente, representamos metade da população brasileira, mas somos somente 55 dos 513 deputados federais e 13 dos 81 senadores.
Nas marchas que tomaram as ruas de todo o mundo nesta quarta-feira, lembramos que lutamos por igualdade de direitos. E não há igualdade enquanto trabalharmos 7,5 horas a mais que os homens por semana, segundo o IBGE, por causa das tarefas domésticas. Não há igualdade enquanto ganharmos, em média, 27% a menos que os homens que ocupam as mesmas posições, segundo a ONU – e, quando a comparação é feita apenas com mulheres negras, a disparidade chega a 40%.
A “posição adequada” da mulher na sociedade está muito além da responsabilidade compartilhada sobre o gerenciamento da casa e a educação dos filhos e filhas. Como todas as pessoas, temos direito a empregos decentes e com salários dignos. Somos mais da metade da população mundial e brasileira. Somos parte ativa e relevante da economia como um todo. Somos parte fundante da sociedade. Não podemos aceitar retrocessos.
Que, em todos os dias do ano, seja lembrada nossa luta por um mundo com mais justiça e menos desigualdade.
Katia Maia
Diretora Executiva da Oxfam Brasil