Na semana passada, a luta pela posse de terras fez novas vítimas. Segundo dados oficiais, nove pessoas foram assassinadas no município de Colinza (MT), na última quarta-feira, 19. Não foi a primeira vez que as 70 famílias que moravam naquela zona rural viram vidas encerradas. Homens, mulheres e crianças foram testemunhas de mais um massacre. Se nada mudar, infelizmente esse não será o último.
Há mais de 10 anos, agricultores familiares lutam por um pedaço de chão em Colinza. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, em 2007, no mesmo local, 10 trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e outros três foram assassinados por fazendeiros que disputam terras e extração de madeira na região. Onde a lei tarda a chegar, o horror se torna presença constante na vida das pessoas que vivem da pequena produção rural. Na última semana, a CPT divulgou seu relatório anual sobre conflitos no campo no Brasil. No ano passado, foram 61 assassinatos – o maior número registrado desde 2003.
A concentração de terras nas mãos de poucas pessoas incentiva esse tipo de conflito. Segundo o relatório Terrenos da desigualdade: terra, agricultura e desigualdades no Brasil rural, menos de 1% de todos os produtores rurais do país concentra mais da metade das terras cultiváveis. Aos pequenos produtores, com estabelecimentos com área inferior a 10 hectares, restam menos de 2,3% da área rural total – embora representem mais de 47% do total de propriedades do país.
Para enfrentar essa realidade, precisamos de políticas que garantam o acesso à terra, o reconhecimento e os direitos da mulher no meio rural. Necessitamos assegurar os direitos dos povos indígenas, quilombolas e outras comunidades e povos tradicionais.
É da agricultura familiar que vem grande parte dos alimentos que consumimos. Não podemos permitir que a injustiça e a desigualdade no campo sigam fazendo vítimas.
Katia Maia
Diretora Executiva da Oxfam Brasil