“O planeta já não espera para cobrar da próxima geração”, afirmou o Presidente Luís Inácio Lula da Silva em discurso na abertura da 28ª Conferência dos Estados Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28). Lula citou 2023 como o ano mais quente em 125 mil anos e as consequências severas, como secas e enchentes, criticando a falta de ação global, o descumprimento de acordos climáticos e a desproporção nos gastos militares comparados aos investimentos necessários para combater as mudanças climáticas.
Reiterando o fato que as populações mais pobres são as mais afetadas, o presidente brasileiro enfatizou a ligação entre desigualdades socioeconômicas e vulnerabilidade climática, e mencionou dado do relatório Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%, publicado pela Oxfam no dia 20 de novembro:
“O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial”.
O presidente criticou a ineficácia da ONU na manutenção da paz e segurança internacional e na implementação falha de acordos climáticos anteriores e reforçou a importância de enfrentar as desigualdades para lidar eficazmente com as mudanças climáticas. Por fim, reafirmou o compromisso do país com metas climáticas ambiciosas, com a redução do desmatamento na Amazônia e com a promoção de uma economia mais verde.
“Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP 28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia”, concluiu.
Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, considera muito bem-vinda e importante a centralidade da relação entre o combate às desigualdades e a luta contra as mudanças climáticas manifestadas no discurso do presidente Lula.
“As populações mais vulnerabilizadas são as principais impactadas pelos efeitos climáticos causados por um punhado de bilionários. Isso é um atestado da naturalização das inaceitáveis consequências do racismo que estrutura nossa sociedade e das disparidades de gênero e renda às quais o presidente brasileiro aludiu em sua fala.”
No entanto, ao mesmo tempo em que Lula faz importante chamado a uma mudança de atitude no combate às mudanças climáticas, é necessário que o governo brasileiro igualmente transforme tais palavras em ações efetivas.
“O Presidente Lula manifestou a disposição de o Brasil liderar pelo exemplo. Nesse espírito, é fundamental adotar medidas efetivas para financiar adequadamente uma transição justa para uma economia verde, por meio de impostos sobre empresas e super-ricos que mais contribuem para as mudanças do clima”, afirmou Katia Maia. “É necessário também um compromisso efetivo na eliminação do uso de combustíveis fósseis, além de investimento em serviços públicos, tecnologias sustentáveis e infraestruturas que beneficiem todas as pessoas, especialmente as mais vulnerabilizadas.”