Qual o papel das artes no ativismo e na discussão sobre as desigualdades? Como a arte é percebida pelas populações periféricas? Essas e outras questões foram discutidas na noite desta terça-feira (23/1) na livraria Tapera Taperá, na República (São Paulo), no debate Arte e Desigualdades promovido pela Oxfam Brasil. Participaram do encontro a quadrinista e ilustradora May Solimar e o professor de Artes Visuais da Unicamp, Renato Almeida.
“A arte promove a reflexão, pega nas pessoas, e alcança muito rapidamente todo mundo”, afirmou May Solimar, que produziu as artes do calendário 2024 da Oxfam Brasil – clique aqui e confira. “Toda produção tem um quê de ativismo, porque é uma manifestação de subjetividades de indivíduos para a sociedade.”
May, vencedora do Prêmio de Arte Afrofuturista 2021 e quadrinista do site Alma Preta, defende o uso de ferramentas de redes sociais, como o Instagram, para ampliar o alcance da arte. “O poder da arte é imenso e temos que explorar os meios disponíveis para levá-la para um público cada vez maior.”
Para o professor Renato Almeida, que também é artista plástico, toda atitude que tomamos na sociedade é uma atitude política – das mais simples às mais complexas. “O mesmo acontece com a arte, que é mais um aspecto da sociedade, e vai sendo construído de acordo com as escolhas feitas pelo artista”, afirmou, lembrando que para as populações periféricas, não basta apenas estar nos espaços culturais e artísticos existentes na cidade, porque esses locais, em geral, não são ‘convidativos’. “Eu mesmo, que sou professor e doutor na minha área, já tive problemas de racismo em ambientes em que eu ocupava há algum tempo. E isso é uma realidade para quem vem da periferia e para a população negra.”
Renato Almeida, que pesquisa arte contemporânea, o espaço urbano e suas desigualdades, com base em questões de classe e raça, lembrou ainda que seu primeiro acesso à cultura veio por meio da TV. “Me oferecia um conhecimento raso e fragmentado mas me provocava a querer conhecer mais.”
Já na escola teve contato com muitos grafiteiros e pichadores, e mesmo não tendo se tornado um deles, iniciou a partir desse contato sua relação com as artes e a cidade, despertando posteriormente seu interesse pelo tema e inspirando suas pesquisas acadêmicas.