Depois de cinco anos como presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, Oded Grajew deixa o posto, permanecendo como um dos conselheiros da organização. Em seu lugar assume Helio Santos, outro conselheiro.
“A Oxfam Brasil se tornou, nesses cinco anos, uma referência nacional no tema das desigualdades”, lembra Oded, que foi um dos idealizadores do Fórum Social Mundial (criado em 2001) e fundador de iniciativas como o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e o Instituto Ethos. “E o mérito é do comprometimento dos conselheiros com essa pauta fundamental e da excelência da equipe.”
Helio Santos, um dos fundadores do Conselho da Comunidade Negra de São Paulo (em 1984), e membro da Comissão Afonso Arinos, que preparou um anteprojeto para a Constituição de 1988, e fundador e diretor-presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade (IBD), lembra que um dos fatores que o animou a participar do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil foi o fato de ser liderado por Oded Grajew. “Ele é um cidadão que batalha pela humanidade.” Agora, como presidente do Conselho Deliberativo da organização, Helio afirma que atuará como um facilitador e estimulador, “para que possamos avançar ainda mais”.
Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, em nome de toda a equipe, registra o papel decisivo de Oded Grajew para a construção da organização. “Oded contribuiu com sua dedicação, compromisso com a redução das desigualdades no país e visão estratégica. A continuidade da sua participação no Conselho é importante e muito bem-vinda.”
Ao mesmo tempo, Katia ressalta a honra que é para a organização poder contar agora com a presidência de Helio Santos. “Helio entra como presidente do Conselho da Oxfam Brasil em um momento em que o país está com suas desigualdades escancaradas e sua democracia em cheque. Sua experiência e compromisso com a justiça social e, em especial, sua história de luta no combate ao racismo, garantem um aprofundamento do trabalho que vem sendo desenvolvido pela organização.”
Conversamos com Oded Grajew e Helio Santos sobre o trabalho desenvolvido na organização nesses cinco anos e os caminhos futuros para o enfrentamento às desigualdades.
Oded Grajew: “Nos tornamos uma referência nacional para o combate às desigualdades”
—
“Fui presidente da Oxfam Brasil durante sua criação e implementação, e esse período foi de extrema importância, quando pudemos elaborar nossa linha de trabalho, que tem como tema central as desigualdades brasileiras.
Durante os cinco anos em que estive à frente do Conselho Deliberativo, tivemos importantes conquistas, como a própria implementação da Oxfam Brasil como sua oficialização como afiliada da rede Oxfam Internacional.
Nesses cinco anos, a Oxfam Brasil se tornou uma referência nacional para o combate às desigualdades no país, e o mérito é inteiro do comprometimento dos seus conselheiros e da excelência de sua equipe.
O Brasil é um dos campeões mundiais das desigualdades – e não há futuro algum para um país com os índices de desigualdade como os que temos.
O caminho para sermos um país decente e civilizado passa necessariamente pela redução das desigualdades. Não há hoje assunto mais importante no país. É preciso reduzir as desigualdades para darmos qualidade de vida aos brasileiros e para o país se desenvolver sustentavelmente.
Qualquer cidadão, instituição ou governo tem que tratar isso. Não teremos futuro sem uma drástica redução das desigualdades. O papel da Oxfam Brasil é articular cada vez mais com outras organizações para intensificar o trabalho de combate às desigualdades.
Temos que colocar esse tema como central para governos e a sociedade brasileira como um todo.”
Helio Santos: “A Oxfam Brasil terá que influenciar cada vez mais as políticas públicas”
—
“Estar no Conselho da Oxfam Brasil foi um período de muito aprendizado. Não mudou muito minha ênfase, porque sou ativista do movimento negro – e a questão da desigualdade está ligada a isso. Foi um momento de aperfeiçoamento, de aprendizado para mim, de perceber uma organização que impacta o Brasil. A Oxfam Brasil faz a diferença.
Costumo dizer que as desigualdades estão para o Brasil como o gelo está para o Alasca. Temos desigualdades de todos os tipos no Brasil. Vivemos uma assimetria bizarra no país. A missão da Oxfam Brasil não é apenas, como muitos pensam, combater as desigualdades. A missão é combater as causas das desigualdades e da pobreza, e procurar influenciar as políticas públicas – agora, mais do que nunca. Então, o papel da Oxfam Brasil no país é estratégico.
O papel da Oxfam Brasil para o futuro é trabalhar para quebrar essa assimetria bizarra que o país tem. Mostrar cada vez mais que a pobreza no Brasil tem cor, mas que a corrupção também tem, a sonegação fiscal também tem, e a tributação torta também tem. Para isso, a Oxfam Brasil vai ter que cada vez mais influenciar políticas públicas.
Por incrível que pareça, eu sou otimista, porque eu acredito na terceira lei de Newton – a lei da ação e da reação. Ela não acontece só na física, ela acontece também no campo social. Nós vivemos um momento agudo no mundo, mas de uma maneira muito particular no Brasil. A reação da sociedade civil a isso é de avançar. E a Oxfam Brasil terá um papel decisivo.
Para muita gente, estamos num beco sem saída. Eu não vejo assim. Esta anomia na qual estamos imersos desde sempre, ela tem uma resposta: a equidade é um antídoto a isso. A equidade racial, a equidade de gênero. Como a maioria da população brasileira é feminina e negra, a equidade racial e de gênero são antídotos contra essas desigualdades. A Oxfam Brasil vem trilhando nessa direção.
O Brasil não é um país apenas racista e sexista, ele é também homofóbico e de extremas violências. Violências banalizadas. E tudo isso tem como matriz o tamanho de nossas desigualdades. A desigualdade banalizada secular, ela tem como subprodutos essa banalização da violência. Eu acho que a Oxfam Brasil tem uma missão fundamental no Brasil, e cada vez ela vai procurar influenciar mais. Meu papel como presidente do Conselho será o de facilitador, de um estimulador, para que avancemos. Temos um time muito bom, pessoas que já vêm fazendo muito pelo país há muito tempo. É uma honra imensa estar com elas.”