A Oxfam Brasil, em parceria com a Secretaria de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar) promoveram entre os dias 7 e 8 de dezembro a formação Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariadas Rurais e o Racismo, com a participação de dirigentes sindicais de todo o país.
O evento, realizado em São Paulo, contou com palestras de especialistas em questões raciais, mercado de trabalho, direitos humanos e trabalho escravo, entre outros.
“Esse é um tema muito importante para a Oxfam Brasil, está presente em nossos relatórios sobre a situação dos assalariados rurais e em nossas atividades formativas, quando falamos de violações em direitos humanos”, afirmou Gustavo Ferroni, coordenador da área de Justiça Rural e Desenvolvimento da Oxfam Brasil, na abertura da formação. “A gente sempre tenta trazer a relação com as questões estruturais que afetam nosso país, e impossível não falar de racismo.”
Racismo estrutural
As palestras realizadas no evento abordaram os diversos aspectos do racismo no Brasil e seu enraizamento estrutural na sociedade. A partir de um panorama histórico, foi debatido a presença da questão racial no cotidiano do país e as lacunas que ainda precisam ser superadas para o enfrentamento do racismo no campo.
O primeiro palestrante da formação promovida pela Oxfam Brasil, CUT e Contar foi o professor Ramatis Jacino, da Universidade Federal do ABC (UFABC), membro do Núcleo de Estudos Africanos e Afro-brasileiros – NEAB/UFABC.
Em suas pesquisas na universidade, Jacino procura focar na transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado no Brasil e o desdobramento dessa transição para a população negra.
“O capitalismo tem uma ligação total com o racismo. O racismo foi necessário, a escravidão foi necessária, para a construção do capitalismo. Essa ideologia que é o racismo foi criada para legitimar uma determinada situação econômica”, explicou Jacino, durante sua palestra “O que é racismo?”. “A origem é econômica, o interesse é econômico, de ir atrás de riquezas, e por isso foi necessário legitimar o que estavam fazendo, e para isso se constrói essa ideologia. Não foi o racismo que criou a escravidão. Foi a escravidão que criou o racismo.”
Fizemos uma breve entrevista com o professor Ramatis Jacino, confira:
Racismo e trabalho no campo
Após a fala de Ramatis Jacino, os participantes prestigiaram a palestra “O Mecanismo do Racismo Estrutural no Brasil: Eugenia e Trabalhadores Rurais”, de Weber Lopes Góes, historiador e especialista em Ciências Sociais pela UNESP de Marília (SP).
A coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado e secretária de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Iêda Leal, apresentou dados sobre a interseccionalidade das questões de raça, gênero e classe, e sua importância para enfrentar as desigualdades no campo.
O trabalho análogo ao escravo e sua relação com o racismo no Brasil foi o tema da palestra da pesquisadora Raíssa Roussenq, autora do livro “Entre o silêncio e a negação”.
Confira aqui detalhes da programação e a lista completa dos palestrantes.