A luta contra a pobreza global está sendo perdida em uma área crítica – a percepção das pessoas. Pesquisa publicada nesta quinta-feira, 22, pela empresa holandesa Motivaction, mostra estilos de vida e a visão de pessoas em diferentes lugares do mundo frente ao tema da pobreza global. A divulgação coincide com o aniversário dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
A pesquisa revela que 87% da população mundial acredita que a pobreza global ficou no mesmo nível ou piorou nos últimos 20 anos. Essa percepção é exatamente o oposto da realidade, já que os níveis de pobreza foram reduzidos à metade nas duas últimas décadas.
A falta de informação e o pessimismo relacionado ao cenário mundial dificultam o trabalho feito na tentativa de tirar o restante da população que ainda vive na pobreza extrema. A opinião das pessoas varia de acordo com quem são, onde estão, o que fazem e no que acreditam. Isso sugere a necessidade de novas formas de comunicação por parte dos governos e de ONGs para mobilizar diferentes pessoas em diferentes países nessa luta.
No Brasil, apenas 2% dos 1.019 entrevistados sabiam que o número de pessoas que vivem em extrema pobreza diminuiu pela metade nos últimos 20 anos. Outros 22% pensam que o índice foi reduzido em 25%, enquanto 76% afirmam que a pobreza continuou nos mesmos níveis ou aumentou. Quando perguntados sobre as expectativas futuras, 65% dos brasileiros e brasileiras afirmam não acreditar ser possível erradicar a pobreza extrema até 2030.
A pesquisa Glocalities envolveu 26 mil pessoas em 24 países e de 15 idiomas diferentes. O estudo foi financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates e foi conduzido pela empresa Motivaction em parceria com as ONGs Oxfam e Global Citizen. O objetivo foi produzir informação para aprimorar o trabalho realizado na busca pela redução da pobreza.
Avanços e desafios globais
A pobreza global foi reduzida a menos da metade desde os anos 1990, segundo os indicadores do Banco Mundial. Há duas décadas, 1,9 bilhão de pessoas viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Hoje, 840 milhões vivem nesta situação. Essa conquista aconteceu em grande parte devido ao crescimento na África e na Ásia aliado à melhor distribuição de renda, a sociedades mais abertas e ao fortalecimento das relações comerciais Sul-Sul. Os avanços tecnológicos também desempenharam papel importante nesse avanço.
A retirada das pessoas da situação de extrema pobreza será mais lenta e mais difícil – mas não impossível. São necessários esforços mais concentrados para enfrentar a crescente desigualdade em todos os países, a má governança e os conflitos.
A pesquisa Glocalities também aponta para o papel crucial da crença pública. “Agora que estamos na metade do caminho da erradicação da pobreza, é hora de melhorarmos estratégias de engajamento público que ajudarão a terminar este trabalho”, afirma o diretor de pesquisas da Motivaction, Martijn Lampert. “No entanto, o fato de que a crença pública é em grande parte ausente é uma grande barreira para o sucesso futuro.”
Apenas uma em cada 100 pessoas consegue afirmar corretamente que a pobreza global foi reduzida pela metade. Cinco em cada 10 pessoas acreditam que suas ações pessoais podem fazer pouca ou nenhuma diferença na luta pelo fim da pobreza global.
Segundo Steve Prince-Thomas, de Oxfam Internacional, “a redução da pobreza global pela metade é um dos maiores e menos celebrados sucessos na história recente da humanidade. A conquista mostra o que é possível – mas também destaca o que ainda precisa ser feito. Temos um longo caminho pela frente, e precisamos da energia das pessoas agora mais do que nunca. O sucesso pode começar a reverter rapidamente se não enfrentarmos o aumento da desigualdade com o mesmo entusiasmo com que enfrentamos os abusos causados por conflitos, grilagem de terras e mudanças climáticas”.
A compreensão e a opinião das pessoas diferem significativamente de um país para outro. Na China, por exemplo, 50% dos entrevistados afirmaram corretamente que a pobreza diminuiu. Comparativamente, na Alemanha e nos EUA apenas 8% conhecem essa informação. “As pessoas na China são testemunhas do sucesso da luta contra a extrema pobreza em seu próprio país. É revelador que pessoas em países mais ricos não tenham essa mesma visão”, afirma Lampert.
O porta-voz da Global Citizen Michael Sheldrick declara que “esses resultados confirmam o fato de que muitos de nossos apoiadores estão vindo de países onde há grande transformação ou elevado crescimento econômico. Por exemplo, no topo do ranking dos 10 dos países representados em um de nossos canais no Facebook, 156.000 seguidores são da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Filipinas e Quênia. O ponto chave agora é alcançar aqueles que acreditam que suas ações podem fazer a diferença e possibilitar uma maneira de se envolver e ajudar, inclusive por meio da sensibilização de outras partes do público”.
A empresa Motivaction também identificou durante a pesquisa características de grupos de pessoas influentes entre as demais: em geral, são mais bem informadas, acreditam que suas ações podem ajudar e estão prontas para se envolver pessoalmente em ações. Elas também tendem a acreditar que é possível acabar com a pobreza global até 2030 e costumam ocupar posições de influência na sociedade, na política e em negócios.
“Essas pessoas são ativas e desejam fazer diferença. Elas espalham notícias e pedem para que outras pessoas se juntem a iniciativas de erradicação da pobreza. Também são muito ativas em plataformas de mídias sociais, como Twitter, Youtube, LinkedIn e Facebook. Usando essas redes, as estratégias de informação e de engajamento podem ser mais efetivas que nunca”, afirma Lampert. A pesquisa da Motivaction sugere novas formas de alcançar e motivar estes grupos, tanto visualmente quanto por meio de evidências, e também aponta como essas pessoas se envolvem em conversas que as motivam.
Sobre a pesquisa Glocalities
A empresa Motivaction International conduziu a pesquisa Glocalities que buscou conhecer de forma abrangente os valores, os estilos de vida, a opinião pública e as tendências em 24 países. A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016. As amostras da pesquisa online são representativas das populações com idade entre 18 e 65 anos, separadas de acordo com os dados de censo referentes a educação, idade, gênero e região. A pesquisa foi realizada na Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Países Baixos, Polônia, Romênia, Rússia, Espanha, África do Sul, Coreia do Sul, Suécia, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. Juntos, esses países representam 62% da população mundial.
A pesquisa completa (em inglês) pode ser baixada em www.glocalities.com/news/poverty.html