Foto: Apu Gomes/Oxfam Brasil
O primeiro caso de morte por Covid-19 no Rio de Janeiro, de uma empregada doméstica de 63 anos infectada na casa da patroa, é emblemático das desigualdades brasileiras e como a pandemia afeta mais as mulheres – principalmente as mais pobres e negras. O caso foi lembrado na live desta quinta-feira (28/5) realizada no canal da Oxfam Brasil no Youtube, que contou com a participação da antropóloga Debora Diniz e a historiadora Wania Sant’Anna, com mediação de Katia Maia, diretora executiva da organização.
“As mulheres pobres, que são majoritariamente negras, não têm como fugir do contágio. Assim, elas vão enfrentar o desemprego, senão a morte, ou uma imersão ao risco de contaminação muito grande”, afirmou a antropóloga Debora Diniz, lembrando que as mulheres brasileiras são as que mais atuam na informalidade do trabalho e em atividades ligadas ao ato de cuidar.
Veja como foi a live:
Mulheres na linha de frente contra o coronavírus
Segundo relatório divulgado pela ONU Mulheres em março deste ano, 70% dos trabalhadores na área de saúde no mundo são mulheres. Elas exercem os postos de auxiliar de enfermagem, cuidadoras e, no Brasil, muitas também trabalham como empregadas domésticas e faxineiras.
Para Débora Diniz, antropóloga e professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, que também é pesquisadora e ativista na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, além da desigualdade de gênero há também a desigualdade dentro do próprio grupo feminino. Sendo assim, as mais abastadas conseguem se proteger da contaminação, enquanto as mais pobres, não.
Para Wania Sant’Anna, historiadora, pesquisadora das questões de gênero e de raça e vice-presidente do Conselho do Ibase, aumentar a representação política das mulheres no Legislativo e no Executivo é essencial para que o quadro das desigualdades que afetam as mulheres seja alterado, principalmente em tempos de pandemia.
“Somente 10% das cadeiras na Câmara dos Deputados são ocupadas por mulheres. Assim, temos apenas 51 mulheres, sendo que 47 estão em seu primeiro mandato. E, nos 5.568 municípios do Brasil, apenas 11,7% têm prefeitas. Isso é gravíssimo”, relatou Wania. “Precisamos ocupar este espaço de decisão e representação política. Nós sabemos exatamente o que custou a Marielle estar neste lugar. Vamos fazer isso em nome dela”.
Mulheres, desigualdades e pandemia
Kátia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, lembrou que os países que tiveram melhor desempenho em lidar com a pandemia foi justamente os que são dirigidos por mulheres. Isso mostra que as mulheres, quando têm papel ativo na sociedade, podem contribuir para seu desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida.
“Sendo assim, precisamos de um novo pacto que encare estas desigualdades e mude a realidade em que as mulheres vivem hoje. Uma sociedade mais justa e igualitária”.
Débora Diniz citou duas medidas que podem ajudar a proteger as vidas das mulheres mais pobres no Brasil. Uma é a expansão do pagamento da renda básica emergencial por mais tempo. A outra é que as mulheres que fazem parte hoje do cadastro único do governo federal tenham prioridade na testagem para a Covid-19.