Em qualquer área densamente habitada, ter um bom sistema de saneamento básico é desafiador. Ainda mais quando se está falando de um campo de refugiados, onde equipamentos essenciais são frequentemente inadequados. Em 2016, quando milhares de famílias do Sudão do Sul fugiram para campos de refugiados no norte de Uganda, devido à guerra e à fome, se iniciou uma corrida contra o tempo para montar sistemas e estruturas que pudessem prevenir o surto de doenças e epidemias.
“No meio do imenso fluxo de pessoas chegando ao local, garantir provisões de água potável era um grande desafio, e não havia os equipamentos necessários no assentamento. A Oxfam, com parceiros locais, começou a oferecer água por meio de carros-pipa enquanto procurava assegurar financiamento de diferentes doadores. Água era muito limitada e as práticas de higiene, desafiadoras. Os equipamentos de saneamento disponíveis eram temporários, com privacidade limitada – uma latrina servia a aproximadamente 50 pessoas”, lembra Carolyne Amollo, engenheira de saúde pública da Oxfam em Uganda.
Dois anos depois, há uma mudança no tipo de risco que as pessoas dos assentamentos em Uganda enfrentam. Houve um grande aumento dos resíduos sólidos, que incluem dejetos humanos, conforme mais e mais vasos sanitários são construídos para a população dos campos. Há também o problema da degradação ambiental, já que muitas árvores são cortadas para se obter lenha – e isso também gera um problema de segurança para as mulheres e crianças, que têm que ir cada vez mais longe para buscar essa madeira.
São essas as questões principais com as quais a Oxfam está trabalhando em Uganda. E com financiamento da União Europeia, elaborou projeto de produção de briquetes a partir de resíduos sólidos.
Briquetes são pequenos blocos densos e compactos, geralmente feitos a partir de madeira, mas também podem ser feitos de serragem, casca de arroz, palha de milho, bagaço de cana, casca de algodão, entre outros materiais. São conhecidos como ‘lenha ecológica’ e podem substituir com eficiência outras fontes de combustível como gás, eletricidade, carvão vegetal e mineral, lenha e outros.
Um dos parcerios locais da Oxfam nesse projeto é o grupo de mulheres Loketa no campo de Rhino, em Uganda, que começou como uma iniciativa de geração de renda. A Oxfam está treinando cerca de 40 mulheres do grupo para produzirem briquetes a partir de resíduos sólidos. Com isso reduz-se o número de árvores cortadas e se consegue um bom destino para os resíduos sólidos produzidos no campo de refugiados. Além disso, mulheres e crianças já não precisariam mais andar longas distâncias em áreas de risco de violência e estupro, para buscar combustível para cozinhar.
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Os briquetes produzidos nos campos de Uganda são feitos com resíduos das plantações locais, serragem e outros materiais. A próxima fase do projeto envolverá o uso de dejetos humanos armazenados em fossas e equipamentos sanitários que separam fezes e urina. Cinzas são jogadas sobre a matéria fecal para facilitar sua secagem e destruir quaisquer patógenos que possam provocar doenças. Depois da coleta do material nos sanitários, os resíduos são colocados em um molde. Uma série de procedimentos são realizados em seguida para deixar o material seguro para ser usado como bio-energia – ou, nesse caso, briquetes.
A Oxfam vem trabalhando com organizações como Sanergy e Sanivation, que usam o mesmo conceito de saneamento conteinerizado em assentamentos informais, onde o espaço é limitado e os serviços de coleta de dejetos fecais são inadequados. As comunidades agora produzem briquetes a partir de resíduos sólidos não apenas para o uso doméstico mas também para serem vendidos em mercados locais e internacionais, propiciando uma renda sustentável.
Em campos de refugiados, a produção de briquetes oferece não só uma boa oportunidade de geração de renda, mas também produz uma fonte de energia segura e eficiente em termos de custo e contribui para um ambiente mais saudável, reduzindo o risco de epidemias de doenças como a cólera, devido às más condições de saneamento.
“Nosso plano é usar esses briquetes em nossas próprias casas e vendê-los para outras residências para obter uma renda para ajudar nossas famílias”, afirma Tabu Regina, líder do grupo de mulheres Loketa.